Pesquisar este blog

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009

top 10 site

http://clickjogos.uol.com.br/Jogos-online/Tiro/Robo-Slug-2/
http://www.runescape.com.br/
http://levelupgames.com.br/
http://ojogos.com/
http://habbo.com.br/

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

jogos de meninas

Babá
Fazer Sorvete
Beijo na Aula
Salão de Roupa
Pular Corda Pucca
Foto Com Celebridades
Pucca
Amor Escritorio
Beijar Contest
Salão de Barbie
Hannah Montana
Rebelde
High School Musical
Salão de Beleza
Babá de Meninos
Penteados Engraçado
Bratz Model
Beijo
Escolha Penteado
Beijo Boa Noite
Restaurante de Rua
Bolos
Cabelereira
Cozinheiro Bolo
Cuidar Bebes
Princesa Disney
Sorvete
Cabelereiro
Bratz Make Over
Fadas
Compatibilidade
Desenhar Polly
Cuidar Meninos
Vestido HSM
Pentear Menina
Namorados
Penteado
Penteados
Bebes
Garçonete
Roupa de Verão
Anahi RBD

Maquiar BarbieDivirta-se a seus favoritos maquiagem...(Partidas: 101,290)

Anahi RBDAnahi maquiagem de uma Rebelde. Trata...(Partidas: 130,032)

AshleyDivirta-se disfarçar a mau menina da ...(Partidas: 59,715)

Avril LavigneMaquiagem para o seu cantor favorito,...(Partidas: 52,548)

BratzMaquiagem e desgasta seu favorito ra...(Partidas: 70,086)

Celebridade MaquiagemVocê pode fazer até o atual estrela d...(Partidas: 41,205)

CoraçõesMaquiagem esta menina com todos os ti...(Partidas: 27,803)

DollsMaquiagem para o seu modelo, mas mesm...(Partidas: 35,194)

Dress Up Zac EfronAqui você deixa o jogo com uma fantás...(Partidas: 30,490)

EspelhoVocê está engraçada esta menina, esta...(Partidas: 35,189)

Hannah Make upLight maquiagem e Hannah Montana, a f...(Partidas: 48,059)

Maquiagem da LigiaMaquiagem esta menina, dar cor à sua ...(Partidas: 86,472)

Maquialladora BrilhanteDemustra toda a sua capacidade de obt...(Partidas: 23,890)

Maquiar Canviar seu hairstyle, sua maquiagem ...(Partidas: 22,330)

Maquiar AngelinaNeste jogo pode disfarçar a famosa e ...(Partidas: 22,906)

Maquiar BratzVocê é o estilista mais prestígio em ...(Partidas: 37,978)

Maquiar de FestaMaquiagem tem esta bela moça a um ami...(Partidas: 41,853)

Maquiar e DesenharVocê é um criador de Haute Couture, v...(Partidas: 35,637)

Maquiar NoivaDisfarçar a menina a fazer isto está ...(Partidas: 49,179)

Maria RBDMaria maquiagem da famosa série de ...(Partidas: 116,046)

Perito MaquiagemVocê tem um modelo para o qual disfar...(Partidas: 27,644)

Vanessa HudgensMaquiagem garota para o seu favorito ...(Partidas: 41,658)

WinxMaquiagem para o seu favorito das ...(Partidas: 62,665)

XantiaDivirta-se com maquiagem xantia uma g...(Partidas: 33,899)
Vestido FestaVestido Festa
Você veste a roupa mais moderna desse modelo tão charmoso e bonito. Ele precisa de sua ajuda para ir a uma festa de dança com seus amigos.
Doce Beijo BabáDoce Beijo Babá
É o seu primeiro dia na creche e, como você é tão terrível para dar beijos todas as meninas. Você deve dar beijos sem sua mãe ou você conhece uma queda aproximada. Da doces beijos na bochecha de um amigo de sua turma.
Pedicure CompletaPedicure Completa
Limpa e cuidados para os pés. Faça o pedicura, antes de começar a pintar e decorar unhas. Você pode cor, coloque uma tatuagem legir seu sapato, faça um anel, conjunto completo de pessoal pedicura. Jogue agora e não esperar mais nada.
Classificar Habbo Hotel RoomClassificar Habbo Hotel Room
Você deve se lembrar onde estão localizados todos os objetos das salas de bate-papo HabboHotel. Você tem alguns segundos para memorizar tudo e depois de alguns minutos para colocar tudo no lugar. Clique sobre os objectos na mão e situalos no quarto.
Bob Esponja BombBob Esponja Bomb
Escolha SpongeBob ou um de seus amigos e brincar. Você deve usar o teclado eo espaço, o jogo é para deixar um pacote (barra de espaço) e fora dela para que ele não perde uma vida. buscar
Decore o Seu QuartoDecore o Seu Quarto
Hora de voltar a decorar o seu quarto, escolher móveis e acessórios que você gosta melhor e tornar-se um decorador primeiro.
Colorear BratzColorear Bratz
Escolha a sua imagem favorita da Bratz não hesite e deslumbrantes cores com tons de tinta. Desfrute de dar vida aos seus desenhos queridos.
Caça NuggetsCaça Nuggets
Neste jogo você deve controlar o clip gancho com o mouse, movendo-o para a direita e esquerda. Quando você tem todas as nuggets nível para cima.
Polly TobogaPolly Toboga
Você pode jogar com Polly para superar os obstáculos na água, pressionando o mouse e saltar. Pasate todos os níveis e escolher as roupas cool de Polly.
Quebra-Cabeça TwilightQuebra-Cabeça Twilight
Tente este Quebra-cabeça montado os momentos mais intensos da grande filme de vampiros. Para girar as peças usando a barra de espaço, você pode escolher os momentos mais românticos de Bella e Edward. buscar
Edward AuxiliaEdward Auxilia
Agora você pode disfarçar um verdadeiro vampiro, o incrível personagem da saga de amor Twilght mais popular. Muito jogo completo, você também pode vestir Edward.
Parque de diversõesParque de diversões
Desfrute de um dia no parque de diversões, tendo as crianças defebes perguntar onde você simplesmente arrastar o aplicativo para a atração. Note que as atrações têm de ser completa e espararte.
Moda Lady GagaModa Lady Gaga
Finalmente, você pode usar a mais fashion e bela estrela musical do momento. Aqui você tem a Lady Gaga para você pode ser o seu pessoal designer por alguns minutos, aproveitando a oportunidade.
Beijos ParqueBeijos Parque
Beijos para o seu filho no parque em sua cidade, você não vê os monitores lado do avô. Use o mouse para um par de amantes beijo.
Acesse pontosAcesse pontos
Simplemente tienes que unir puntos para formar quadrados rojos. Lee las instrucciones.


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

grand chase





grand chase e um jogo legal e divertido 3d e ingrasado
parece te saido de um manga japones feito
na corea e faz o maor sucesso no brasil hoje ja tem 1600 jogadores jogando ao mesmo tempo.



conheça um pouco sobre os historia do jogo:


Durante muito tempo, elfos e humanos c
oexistiram pacificamente. No continente de Vermecia, os elfos viviam nas florestas, em suas pequenas vilas, enquanto os humanos se dividiam entre os grandes reinos de Canaban
e Serdin. A paz era selada por votos de amizade entre os dois povos. Mas, um dia... No reino de Canaban, surgiu Cazeaje. Após assassinar o servo mais leal do rei de Canaban, ela assumiu sua aparência e seu posto de confiança. Sob esse disfarce, Cazeaje lentamente começou a inspirar os governantes do reino com promessas de grandes conquistas, poder e glória. E Canaban começou a trilhar o caminho da escuridão.

Durante cinco anos, uma guerra entre os dois reinos devastou Vermecia. Vilas foram destruídas, muitas vidas perdidas, e diversos heróis tombaram em batalhas históricas. At
é mesmo os elfos e anões deixaram seus lares para defender Serdin, mas o exército de Canaban era implacável. Na maior dessas batalhas, Cazeaje revelou seu disfarce, e tirou a vida do rei de Serdin.Ao ver seu antigo amigo morto, e a verdadeira forma de Cazeaje, o rei de Canaban foi tomado por uma fúria sem limites, e tentou enfrentar a traidora. Mas era muito tarde, pois Cazeaje havia desaparecido do campo de batalha. Era o fim da guerra entre os dois reinos, mas mais segredos ainda s
eriam descobertos.


Em Serdin, não só a guerra destruía o reino, mas o surgimento de vários monstros causava medo na população. Florestas e cidades eram destruídas pelo ataque dessas criaturas desconhecidas. Ainda abalada pela morte de seu marido, a rainha de Serdin recebeu uma notícia trazida por maiores magos do reino: Cazeaje havia se tornado a rainha da escuridão, e possuía um grande exército de monstros sob seu controle.Enquanto Canaban e Serdin começavam a se reconstruir e preparar seus exércitos contra as forças do mal, foi criada uma tropa de elite com os maiores guerreiros dos dois reinos. Eles deveriam encontrar Cazeaje e acabar com o mal de uma vez por todas. Sob a liderança da comandante Lothos, começava a grande caçada, a Grand Chase!


lista de algumas armas poderosas:


se quiser mais informaçoes acesse:www.levelupgames.com.br/
venha jogar vc
tambem








Terça-feira, 23 de Dezembro de 2008

Mensagem do presiden

te da KOG

Conforme informamos há alguns dias, Grand Chase Brasil se tornou o maior Servidor ativo do jogo em todo o mundo!
E como forma de agradecer a vocês,
jogadores, que nos ajudaram
a bater esse recorde, o presidente da KOG, Won Lee, enviou a seguinte mensagem:

"A todos os jogadores de Grand Chase do Brasil, Antes de qualquer coisa, gosta
ria de agradecer vocês por toda a paixão e dedicação que demonstram pelo nosso jogo.
Em 2008, demos o máximo de nós para trazer cada vez mais conteúdos exclusivos para o Brasil. E estamos preparando várias surpresas para 2009, incluindo atualizações divertidas
e interessantes como a Season 3
e o Sistema de Guildas.

Essa é a nossa forma de dizer "obrigado" por gostarem tanto de Grand Chase. É muito bom ter vocês a bordo conosco nessa jornada.

Atenciosam
ente,

Won Lee,

Presidente da KOG Studios"

Parabéns ao Grand Chase e aos mais de 17.500 jogadores simultâneos que transformaram o jogo em um dos mais populares do mundo.

SEASON 3
TA VINDOOOOOOOOOOOOO!!!! *_*


Capítulo I – O prefácio de uma triste alma

No Continente de Xênia, existe uma vila criada há muitos anos atrás na qual se acredita que sempre foi protegida pelos poderes divinos dos deuses. Ela foi formada após a imigração de um pequeno povoado do Continente de Vermecia de sua terra natal, em busca de um local com melhores condições, a sua dita “Terra Prometida”. Depois de um triste e duradouro episódio em que várias pessoas morreram em meio ao caminho, de crianças até os mais idosos, enfim, encontraram em um distante continente que batizaram de Xênia, o Deus da Nova Terra, um local habitável e que serviria de moradia para as futuras gerações. A partir daí, foram firmados as primeiras tendas e o Templo Sagrado, onde os moradores agradeciam e traziam suas oferendas todos os dias. Apesar de ser um local rodeado por terras perigosas e povoadas por monstros temíveis, os moradores afirmam que estão seguros graças à benção divina concedida desde a fundação do povoado e mantida pelos votos de gratidão, as oferendas e cultos feitos no Templo.

E assim a vila conhecida como Altegria cresceu e manteve-se erguida através dos séculos. Nada de mal poderia lhes acontecer, pois eram o povo escolhido pelos deuses, os altegrianos.

Mas infelizmente aconteceu. Não ao vilarejo, mas a uma garota inocente cujo sua vida seria marcada para sempre.

- Nasceu! Ela nasceu!

Seu pai sai correndo pelas ruas com muita euforia contando a todos as boas novas. A notícia chega aos ouvidos de todos da vila em poucas horas. Muitos deles passaram na casa dos pais para parabenizá-los e ver o rosto do bebê: era um rosto encolhido, porém angelical e tão alvo quanto as nuvens.

Como tradição, todos os bebês da vila são batizados ao pé do altar do Templo Sagrado. Os pais da criança, que eram bastante devotos aos deuses tanto quanto o resto dos moradores, obedeceram e levaram o recém-nascido para o batismo.

- Qual o nome desta adorável menina? - perguntou o alto sacerdote do Templo.

- Nina, senhor - responde carinhosamente a mãe.

- Nina! Um belo nome para uma benção viva concedida pelos deuses!

O sacerdote, em um gesto habitual, molhou um algodão em um cálice com água, pegou a menina nos braços e com uma mão molhou a testa da Nina, ligeiramente.

- Em nome dos deuses eternos, eu abençôo esta menina e...

O cálice que o sacerdote usara para molhar o algodão explode repentinamente. Todos no recinto, incluído os familiares e amigos que acompanhavam a cerimônia, pularam de susto com o que aconteceu.

- Ah..., err. Esse cálice devia ter algum problema... – respondeu, mesmo com falta de argumentos. - Enfim, vamos continuar.

Depois do ocorrido, o sacerdote nem sequer olhava para a Nina. Parecia, de vista, que estava tentando evitar o simples olhar na garota. Terminou rápido o batismo e se enfurnou na sua sala sem dar muitos comentários.

- Ah, aquilo com certeza não é um bom sinal! Será que os deuses estão querendo nos dizer algo de ruim sobre a criança? Eu preciso vigiá-la antes que algo inesperado aconteça... – murmurou para si mesmo.

***

Anos após seu nascimento, Nina cresce como uma criança normal. Apesar de ser quieta, introvertida, possuir poucos amigos e uma impopularidade entre as crianças do seu vilarejo, ela era uma menina saudável e bonita, amada pelos seus pais e principalmente devota aos deuses. Ela desejava ser missionária de sua vila desde pequena para levar a mensagem divina a outras pessoas, para a alegria de seus entes queridos.

Mas alguns fatos estranhos começaram a se entrelaçar com a vida da garota. Após seus sete anos, ela explodia copos e pratos que tocava ou que simplesmente via a sua frente. Aos oito fazia os objetos a sua volta levitarem. Com dez anos conseguia fazer coisas leves levitarem por vontade própria. Em um dia desses Nina foi pega pela sua mãe em flagrante enquanto fazia um copo flutuar sobre a palma da mão.

- Nina! O que é isso? - berrou ela, assombrada com o que via. - Mas que coisa horrível você está fazendo!

- Não, mãe! Isso foi só... Eu não estava... – espantou-se, deixando o copo despencar do ar e estilhaçar-se no chão.

- Nunca mais faça isso, principalmente na frente de outra pessoa! Isso é algo muito errado, bruxaria é a arte de demônios e bruxas! Quer ser presa e açoitada?

- Não...

- Pois bem, não quero ver você aprendendo bruxaria. Nunca mais! - e assim finalizou o assunto.

Infelizmente houve mais um acontecimento estranho e que mudou definitivamente a vida da Nina.

Ela tinha quatorze anos e estava voltando para casa sozinha depois da escola, à tarde. No meio do trajeto deparou-se com um grupinho de garotas da mesma série que ela mais odiava. Implicavam com ela todas as aulas por ser considerada estranha e excluída do resto do mundo.

- Ah, se não é a estranha! - cumprimentou impiedosamente uma menina do bando.

Nina permaneceu em silêncio.

- Que foi? Viu alguma bruxa andando por aí? Ah, tem uma bem na minha frente e eu estou falando com ela agora.

O resto do grupo riu descaradamente. Nina envermelhou-se.

- Parem com isso! Vocês sabem como é horrível chamar alguém disso...?

- Mas nós estamos falando a verdade! Vocês lembram aquele dia que ela foi pegar um livro na prateleira e ela sozinha se partiu ao meio, derrubando todos os livros? Como alguém pode fazer isso? Só você, estranha!

Todos retornaram a gargalhar. Nina deixou escapar algumas lágrimas dos olhos. Não conseguia suportar toda essa falta de respeito com ela mesma, isso tinha de acabar.

- Ei, fale alguma coisa! – Disse, empurrando a Nina para trás.

- PÁRA!

Repentinamente, a menina que empurrou Nina foi jogada para longe por uma força invisível, fazendo-a cair, deixando-a desacordada. Todos em volta olharam boquiabertos da garota imóvel no chão para a Nina, inclusive os moradores que estavam próximos e viram o que acabara de acontecer.

- Bruxa! Assassina! Monstro!

Os que estavam ali começaram a berrar e xingar a menina. Nina desesperou-se e correu para casa em meio ao choro.

Horas depois, na casa dela, Nina ainda não havia parado de chorar. Dissera aos pais que brigara com uma menina na escola. Houve-se batidas na porta da casa e sua mãe atende, voltando depois irritada para Nina, puxando o seu braço com força.

- Nina, eu não acredito! - a mãe dela estava vermelha e descontrolada. - Você usou magia negra contra uma menina?

- Mãe, eu não quis fazer aquilo! Foi involuntário...!

- Não minta pra mim, menina! Magia não é involuntária...

- É verdade, eu não...

- Silêncio! – gritou histericamente. Nina percebeu que uma lágrima escorria dos olhos dela. – V-Você sabia que magia é um crime, Nina. Eu já te alertei algumas vezes. Mas agora é tarde demais, eles querem levar você pro calabouço...

- Não, mãe! Por favor, eu não tive culpa! - grossas lágrimas começaram a cair dos olhos verdes de Nina.

As duas começaram a chorar juntas. Soldados adentraram na casa sem a concessão de ninguém e pegaram a Nina pelos braços, levando-a para fora.

- MÃE, POR FAVOR! ME AJUDA!

Mas a mulher apenas encolheu-se onde estava e chorou desesperada. Ninguém a ajudaria, ninguém mais gostava dela. Passaria o resto da vida na prisão e quem sabe poderia receber até uma sentença de morte.

E assim seguiu sua vida, presa em um cárcere sujo e úmido o dia todo, sem se comunicar com ninguém, comendo apenas uma vez ao dia um pequeno prato de comida que não dava para identificar o que era. Emagrecera tanto que chegavam a aparecer os ossos do corpo, vestia uma roupa remendada e imunda e dormia em uma cama dura de madeira. Tudo isso apenas porque tinha poderes que não sabia controlar e eram considerados errados e abomináveis pelo seu vilarejo. Todos agora a odiavam e isso a fazia sentir uma angústia irritante no fundo do seu coração.

Quase dois meses se passaram quando, enfim, alguém foi pessoalmente abrir a porta de sua prisão para falar com a garota.

- Venha, hoje você receberá a sua sentença final - convocou o soldado que aparecera à porta.

Nina apenas o obedeceu. Não se desesperou, no fundo sentia uma vontade de morrer. Nada mais valia apena para ela, apenas queria que isso acabasse.

No caminho, foi escoltada por três soldados. Percorreram silenciosamente pelo corredor do calabouço, mas, de repente, Nina ouviu uma voz suave de algum lugar.

“Não temas. Tu sobreviverás.”

Ela parou ao ouvir a voz e começou a procurar a sua fonte ao seu redor.

- O que houve? Eu não pedi para você parar...!

Mas antes de terminar de falar, uma força invisível atingiu o peito do soldado, lançando-o a metros de distância e logo depois acertou também os outros dois que estavam paralisados com o susto. Nina correu desesperada pelo corredor da masmorra. Não queria ter feito aquilo. E que voz era aquela? Será que só ela ouvira?

Seguiu até o fim para a saída clareada pelo sol, onde havia dois guardas esperando-a.

- Ei, pare aí!

Os soldados tentam desferir um golpe com suas lanças em Nina, mas eles também foram lançados para longe. Ela atravessa o pátio da prisão com a cabeça baixa e coberta pelos braços, como se estivesse protegendo-a, enquanto os guardas que tentavam impedi-la eram jogados pro alto. Quando estava próximo do portão de saída um dos soldados gritou:

- Abaixem o portão! Não a deixem fugir!

Os soldados levantaram o portão rapidamente, porem, quando Nina se aproximou, ele desabou com um estrondo.

- Arqueiros, ataquem!

Várias flechas foram lançadas em direção a garota, mas elas eram repelidas por uma barreira invisível em sua volta.

E assim a garota conseguiu sair da prisão e escapou de sua morte. Fugiu de sua cidade natal e foi morar em outros lugares, sem rumo, sem alguém que pudesse ampará-la.

Em uma de suas caminhadas percorreu um caminho montanhoso, muito frio e gélido. Não tinha mais comida e a água estava se esgotando. Parava de vez em quando em cavernas para se aquecer e dormir. Era um caminho longo e difícil, quase não tinha condições de atravessá-lo.

Mas, quase no final do percurso, em meio a uma forte nevasca, uma avalanche desceu o morro e atingiu-a em cheio, cobrindo-a de neve. Parecia ser o seu fim: ninguém poderia ajudá-la, estava em péssimas condições de saúde e presa em um monte de neve congelante. Mas Nina não contava com um brilho de esperança que estava indo ao seu encontro: o Grand Chase.

---------------------------

Capítulo II – Partida à Altegria

A manhã estava clara e agradável e a equipe de elite do Grand Chase descansava em seu quartel-general, aproveitando um dos poucos momentos livres que tinham quando não estavam resgatando gatinhos indefesos nos galhos de árvores altas ou então ajudando idosos a atravessarem as ruas de Vermecia. Pelo menos assim pensa o guerreiro Ryan, que não cansa de reclamar das missões inúteis que eles têm recebido nos últimos dias. Sentia falta daquela ação correndo pelas suas veias e a emoção de sacar sua pique e com ela dissipar todo o mal do planeta.

Falando no nosso querido elfo, ele se encontra neste exato momento no pátio do edifício, próximo a um muro, balançando-se inquietantemente sobre uma cadeira, ao lado de seu companheiro Lass, que descansa debaixo da sombra de uma árvore. Os dois ficaram ali por horas vendo o tempo passar, Ryan olhando as nuvens no alto e Lass apenas permanecia parado onde estava sem mexer um músculo. Ryan não se agüentava de tanto tédio. Ele queria chutar bundas de vilões por aí ou pelo menos interagir com uma alma viva, quer que fosse. Levantou-se de um salto, espreguiçou-se energeticamente e perguntou:

- Lass, vamos fazer... alguma coisa?

Lass nada disse, ao invés disso permaneceu onde estava com os olhos fechados e com os braços cruzados atrás da cabeça.

- Ah, fala sério, eu sei que você não tá dormindo. Então levanta esse traseiro daí e...

- Me deixe em paz se você tiver amor à vida – ameaçou Lass.

Ryan se espantou ao ouvir a voz grave e sombria do amigo. Então bufou para si mesmo e tornou a se sentar.

Mais à frente Elesis e Ronan faziam um treinamento de combate juntos. Ambos sacaram suas armas e começaram a lutar. A garota de cabelos vermelhos devia ficar na ofensiva a todo instante enquanto o Erudon se esquivava dos golpes.

- Muito bem, Ronan. Mas em uma luta você deve ser mais que um guerreiro! – comentou Elesis.

Ela salta, dá um giro no ar sobre Ronan e aterrissa atrás dele, e aproveitando a oportunidade desfere um golpe com os seus sabres na sua retaguarda.

- Defesa mágica!

Mas o rapaz conjurara uma proteção mágica em forma de uma aura azul-clara ao seu redor antes de receber o ataque, fazendo-o levar dano algum ao ser acertado.

- É por isso que não sou um mero guerreiro! – retrucou Ronan.

Ryan acompanhava a luta de longe com os olhos brilhando. Foi então que lhe ocorreu a idéia: por que não treinar também? Com um salto repentino, pôs-se de pé e berrou próximo ao ouvido de Lass:

- Lass, quer lutar comigo?

- Não posso – reagiu lentamente.

- Por que não?

- Se eu lutar com você vou me empolgar de mais e acabar te matando – concluiu Lass, retornado ao seu cochilo.

- Argh, será que não tem nada pra fazer nesse fim de mundo?

Ryan, então, enfureceu-se e chutou para bem longe uma pedra que estava perto dos seus pés. Impaciente, começou a caminhar sem rumo pelo grande terreno do quartel de cabeça baixa. Será que teria de coçar as costas de velhinhos pelo resto da vida? Será que ele teria de começar uma rebelião para findar essa monotonia? Queria encontrar alguém que o entendesse, que pudesse caçar texugos com ele ou até nadar no lago ao seu lado.

Foi então que passando pelo campo de treinamento encontrou Lire treinando com a sua Gakkung, disparando em pratos que eram lançados de uma velha caixa de correio.

- E aí, Lire! – cumprimentou.

- Oi, Ryan! – disse em resposta ao amigo, ignorando um prato que havia sido lançado.

- Ai! – gemeu ele.

O prato que Lire se ignorara foi parar direto na testa do Ryan, jogando-o no chão com o impacto, deixando-o atordoado.

- Ai meu Deus! – Lire correu alarmada até ele. – Você está bem?

- Ai, e-e-e-e-e-eu t-tô legal, s-sim! – gaguejou ele. – Ei, Lire, você nunca me disse que tinha uma irmã gêmea!

Lire arregalou os olhos.

- Sei não... Olha quantos dedos têm aqui? – perguntou ela, levantando dois dedos.

- Um, dois, três... quatro! – contou.

Lire arregalou ainda mais os olhos. Então puxou a mão do amigo para ajudá-lo a se levantar.

- Levanta, vou te levar à Ala Médica. Ou melhor, ao quarto da Arme, ela deve resolver isso mais rápido, já que não é grande coisa.

Seguiram, então, os dois pelos corredores até o quarto. Lire falava sem parar enquanto Ryan massageava o galo na sua testa. Sentia uma forte dor de cabeça, tanto que não conseguia escutar nada ao redor e tudo girava como um redemoinho.

- Eu estava treinando com uma caixa de correio usada que a Arme enfeitiçou pra mim – comentou ela. – Só que nunca pensei que poderia ser tão perigoso. Vou tentar outro modo que seja menos arriscado. É aqui!

Os dois pararam em frente a uma porta roxo-clara que pertencia ao quarto da Arme. Debaixo dela pairava uma fumaça verde que carregava um leve cheiro de repolho. Lire bateu nela várias vezes, mas não houve nenhuma resposta, embora pudesse ouvir do lado de fora alguns murmúrios e batidas desconhecidas. Lire suspirou e gritou:

- Arme, abra a porta! Eu sei que você está aí e que está ocupada, mas eu preciso de você agora! – argumentou, dando mais batidas frenéticas na porta. – Por favor!

Ninguém respondeu. Lire abandonou a chance da amiga atendê-la e apoiou as costas na parede, pensativa. Ryan, enfim, conseguindo perceber a situação, afirmou:

- Não precisa mais, Lire. A minha dor já passou, já estou bem melhor agora.

- Tem certeza? – preocupou-se Lire, observando atentamente a bolota que crescera na testa dele.

- Sim, pode ficar tranqüila.

- Ok, então – compreendeu ela, desencostando-se do muro. – Apenas tome cuidado. Se cuida!

- Tá bom...

Lire saiu em passos apressados em retorno ao campo de treinamento, deixando Ryan à só. Este ficou ali, mirando o chão mais uma vez. Voltara à estaca zero, e ainda com um enorme galo na cabeça. Recomeçou a sua caminhada pelos corredores, tristonho, sem saber aonde ir. Andava desatento, tão desatento que colidiu com alguém no meio do caminho: ele havia chocado seu ombro com o ombro do Jin.

- Olá, Ryan – cumprimentou gentilmente –, tudo bem com você?

- Ah, Jin – exclamou Ryan, recobrando a consciência –, tudo bem, sim.

- O que houve? Você parece triste demais hoje...

- Sabe como é, não tem nada, NADA, pra fazer aqui.

- Eu sei, eu também estou na mesma situação - conciliou ele. – Sabe, eu estava na mesma situação até que a Amy me chamou para jogar baralho. Na verdade eu só estava indo ao banheiro agora. Ei, você quer jogar baralho com a gente?

- É claro! – exclamou Ryan com empolgação. – Por que não? Isso é mais do que perfeito!

- Que bom! – alegrou-se Jin. – Venha comigo, nós estamos no refeitório...

BLÁM, BLÁM, BLÁM!

Mas antes que pudessem dar um passo sequer o som de um sino ecoou pelas dependências do quartel: era o sino de alerta. Para os integrantes do Grand Chase, o soar deste sino sempre simbolizava a chegada de novas missões ou grandes problemas, em que sempre contava-se a participação deles. Era pedido a eles que se reunissem na sala da comandante Lothos toda vez que o sino der a soar.

- O sino? – questionou Jin. – O que será dessa vez?

- Não sei – concluiu Ryan –, mas tô louco pra descobrir!

***

Àquela altura, praticamente todos já haviam se dirigido à sala para a reunião extraordinária. Elesis, Jin, Amy, Ryan, Ronan, Lass e Lire estavam sentados lá, tensos, olhando uns para os outros, cochichando pelo canto da boca alguma idéia do que estava à espera deles. Exceto Ryan, que não parava quieto na cadeira em que se sentara, levantava-se constantemente dela, ziguezagueando pelo cômodo e depois tornava a se sentar. Em um desses trajetos, o elfo acaba pisando no pé do rabugento do Lass.

- Ai! – gemeu Ryan de dor depois de receber um forte cascudo na cabeça pelo Lass.

- Na próxima eu vou te dar um soco para deixá-lo desacordado! – irritou-se.

Minutos e mais minutos se passaram e Lothos ainda não tinha retornado para o seu escritório. Afinal, ela é a pessoa mais importante para o andamento da reunião, e ainda assim não estava ali e nem parecia chegar. Até o momento em que se puderam ouvir passos se aproximando do aposento, seguido pelo som do ranger de porta se abrindo, o mesmo ranger da porta do escritório, revelando o rosto inconfundível da Lothos, que adentrou na sala agitadamente com um envelope debaixo do braço, atravessou até a sua escrivaninha e acomodou-se na sua cadeira, apoiando o envelope sobre a mesa, tudo isso sob uma cortina de silêncio que fechava o ambiente inteiro. Ele só foi rasgado quando a voz firme e direta da comandante saltou de sua boca.

- Bom dia, queridos amigos – iniciou. – Me perdoe pelo meu atraso, tive que resolver algumas coisas urgentes antes de vir até aqui.

“O que temos para discutir é um novo caso que nos foi concedido para que busquemos uma resolução. Esse caso consiste em uma missão de busca a uma fugitiva da prisão de alta segurança da Vila de Altegria.”

- Altegria? – questionou Lire. – Por acaso eu já vi esse nome de algum lugar...

- Altegria é um vilarejo situado ao sudoeste do continente de Xênia. Ela é uma vila imigrante de Vermecia que fugiu das péssimas condições de vida encontradas no nosso continente há muito tempo atrás e conseguiu desenvolver e ainda se desenvolve independentemente, ou seja, quase como uma cidade-estado. Por isso, vocês não terão dificuldade com a língua, sendo que falamos o mesmo idioma, e nem com a cultura, que é parecida com a nossa.

- Lothos, fale mais sobre a missão. – pediu Lass.

- Como eu disse vocês deverão buscar uma fugitiva que escapou anteontem da penitenciária. De acordo com as informações que me enviaram ela não fugiu para fora das dependências de Xênia. Eles presumem que esteja se escondendo nas montanhas ao norte da vila, e afirmam que a equipe Grand Chase não terá maiores problemas de dominá-la e trazê-la de volta. Ah, também querem que tragam-na viva à aldeia – conferiu ela em uma folha de dentro do envelope, aproveitando, tirou uma foto de dentro. – Vejam aqui a foto da fugitiva que me enviaram.

Lothos entregou a foto na mão de Elesis. Todos, então, se amontoaram ao redor dela para ver também. Na foto retratava uma garota magra e mal vestida, porém esta tinha um lindo rosto intensificado ainda mais pelos seus olhos verdes-esmeralda. Ela estava acorrentada a grossas correntes de ferro presas nas pernas e braços. Mas o fato mais claro que podia se observar nesta foto era rosto de pura solidão e amargura que ela carregava.

Elesis devolveu a foto à Lothos debaixo de vários olhares duvidosos.

- Você tem certeza que essa é a fugitiva? – perguntou Jin.

- Ela parece ter a nossa idade e já é uma prisioneira – afirmou Lire –, eu não acredito que ela seja tão perigosa assim, a aparência dela nem demonstra isso.

- Pessoal, ordens são ordens. Se ela for inocente ou não nós poderemos averiguar isso mais tarde. Mas agora nos foi incumbido esta tarefa e o nosso dever é cumprir em primeiro lugar. Os direitos serão acrescentados depois – encerrou Lothos.

O silêncio retornou à sala. Todos pareciam ter parado até de se mexer.

- Enfim, eu quero que vocês partam hoje à tarde para a vila, irei contratar uma aeronave exclusiva para a expedição. Vocês chegarão lá bem tarde, por isso quero que se hospedem em um pernoite e durmam bem para que amanhã de manhã vocês partam para as montanhas do norte. Bem, acho que...

BOOM!

Ouviu-se um estrondo tão forte da sala que o chão chegou a estremecer. Uma explosão ocorrera não muito longe dali. Todos haviam se sobressaltado com esse tremor tão instantâneo. Ouviram-se, então, passos rápidos vindos do lado de fora, até que cessaram no instante em que Arme entrou no escritório. Ela estava com a roupa toda chamuscada e seu cabelo roxo estava coberto de fuligem. Estava arfando por ter corrido tão rápido até ali, não conseguia pegar ar para falar. Até que retomou o fôlego e disse:

- Lothos... arf... eu... arf... acabei! – noticiou. – Acho que é o mais potente que, arf, eu já fiz!

- Muito bem, Arme – agradeceu Lothos. – Obrigado por entender o que eu havia lhe pedido, levando em conta que vocês a utilizarão muito.

- O que é, Lothos? – perguntou Amy. – Qual é o segredinho?

- É a poção revigorante. Eu havia pedido à Arme para que a fizesse antes mesmo de tocar o sino.

- Mas, poções revigorantes servem para reanimar o corpo, não é? – disparou o Erudon. – Por acaso o local para onde vamos é bem frio?

- Bem observado, Ronan – elogiou. – Sim, o lugar para onde vocês irão vai ser uma “gelada”.

***

Assim, às cinco e meia da tarde todos prepararam suas malas e partiram na aeronave reservada. Cada um tomou para si uma cabine reservada para ficar, exceto Ryan que permaneceu do lado de fora observando as grandes massas das terras de Vermecia passarem. A aeronave era algo divertido de se observar: tinha forma de um pequeno navio, elevado ao céu por grandes turbinas localizadas em ambos os lados do casco que por sua vez são movidas por motores que se instalam na popa.

Passaram-se horas e a massa de terra foi substituída pela massa marítima e o sol de crepúsculo foi trocado pela lua cheia. Mas Ryan não desistiu, ficou ali deitado por horas em uma cadeira na proa. Cansou de ver a paisagem, agora estava cochilando. Cochilou ali por mais horas até que acordou espantado com o grito do piloto que disse “Terra à vista!”. Todos que haviam se enfurnado nas suas cabines apareceram quase que magicamente na proa, curiosos, excitados pelo anúncio.

Naquela hora havia um denso nevoeiro cobrindo a aeronave. Não se via nada além deles mesmos, todos ficaram esperando ansiosos por pelo menos uma boa visão da nova terra. Até que a cortina se dissipou e, ao longe, avistaram uma vasta massa continental, coberta por muitas casas, do litoral aos grandes morros.

- Enfim, chegamos! – disse Ryan, espreguiçando-se.

- Eba, Altegria! – alegrou-se Amy, dando pulinhos de felicidade.



---------------------------


Capítulo III – Desafio nos montes

Em poucos minutos, a embarcação já se via aterrissando no porto de aeronaves. Sem esperarem por uma segunda ordem, os oito jovens desceram do veículo, atravessaram o caís mal iluminado rapidamente e seguiram por uma estrada de chão em sentido ao centro da vila.

- Nossa, esse lugar é imenso! – exclamou Arme.

Eles estavam na avenida principal, uma rua iluminada por lâmpadas presas a pequenos postes, bem pavimentada, rodeada por grandes e pequenas lojas dos tipos mais variados, movimentada por carroças e pessoas que passavam ali a pé, a maioria delas carregava uma sacola de compras nos braços.

- Esse lugar é lindo – elogiou Lire –, e tão grande que não sei por que ela ainda é considerada uma vila!

- Ai, quanta loja! – disse Amy, seus olhos brilhavam de emoção. – Eu não sei por onde começar...

- Começar? – espantou-se Lass. – Começar? O que vocês pensam que vão fazer?

- Como assim...? – perguntou Amy, inocentemente.

- Nós temos uma missão amanhã, e não sei se ouviram, mas a Lothos pediu para dormirmos bem para acordar cedo! – disse Lass com aspereza.

- Mas... – choramingou Amy.

- Ei, calma aí, Lass! – advertiu Ronan. – Nós sabemos disso tudo, só queremos aproveitar o momento. Não é todo dia que podemos visitar um bom lugar como este.

- Grand Chase, esperem!

O piloto da aeronave vinha apressado na direção do grupo.

- Eu fiquei encarregado de guiá-los até o alojamento do Templo Central da vila – disse ele ao se aproximar. – Vamos?

- Nós decidimos ficar mais um pouco aqui – respondeu Ronan. – Iremos mais tarde.

- Bah, que seja! – esbravejou Lass. – Só não quero que vocês fiquem no meu caminho! E não venham choramingando de madrugada. E você, me leve até esse alojamento – dirigiu-se ao piloto.

- Ah, sim senhor – afirmou desajeitadamente. – Volto para buscar vocês, me esperem na praça central à meia-noite! – disse ao resto do grupo.

Os dois partiram juntos atravessando até o final da rua e cruzando à direita, onde se perderam de vista.

- Hehehe, esse é o nosso Lass de sempre! – comentou Jin.

- ...sempre estressadinho e ranzinza! – completou Arme.

Todos emudeceram, como se ninguém tivesse coragem de fazer mais nenhum comentário sequer. Amy olhou insegura de um lado pro outro e disse:

- Err, alguém aí está com fome?

***

Saíram do lugar que estavam estacionados e foram visitar as lojas. Passaram primeiro em uma lanchonete para comprar sanduíches e bebidas. E depois em uma confeitaria, onde compraram montanhas de guloseimas. A partir daí eles dividiram-se em dois grupos: os das meninas e dos meninos.

- Que tal irmos às lojas de roupas e calçados? – sugeriu Amy ao grupo.

- É uma boa idéia – afirmou Lire.

- Agora podemos ir a lojas mais femininas, já que os garotos não estão com a gente – concluiu Arme com um risinho.

- Argh, que saco! – Elesis sussurrou para si mesma.

Afinal, Elesis desgostava daquela meiguice toda que as meninas do grupo tinham em relação às lojas que desejavam visitar. Foi se afastando de mansinho sem ser notada pelas três e seguiu sozinha pela direção oposta. Foi então que lhe ocorreu uma idéia ao avistar os meninos à sua frente.

- Ei, Ryan! – chamou ela.

- Hã, o que houve? – estranhou ele.

- Quer trocar de grupo comigo?

- Por que eu trocaria para o grupo de meninas?

- Oras, talvez porque elas estariam participando de um treinamento de combate – mentiu Elesis.

- Sério? Então troca comigo! – pediu Ryan, inocentemente.

- Tá bom. Mas olha só, o grupo delas está esperando por você em uma loja de roupas femininas na rua à direita.

- Ok, estou indo pra lá agora – disse animadamente. – Até mais!

- Até! – “Hahaha, que burro! Caiu que nem um patinho!”, pensou.

Assim, os meninos juntos à Elesis seguiram para uma loja de armamentos e defesa pessoal, onde puderam experimentar e comprar novas armas para usarem na nova missão; e Ryan teve de seguir com as garotas por lojas de moda feminina após chegar tolamente berrando “Cadê o treinamento?” na loja em que estavam.

À meia-noite todos se dirigiram à praça central que o piloto havia comentado. Os meninos com a Elesis haviam chegado primeiro e ficaram ali conversando sobre as suas novas armas até a chegada do outro grupo, em que Ryan trazia consigo uma montanha de bolsas rosas-choque de compras das meninas nos braços. Acidentalmente tropeçou numa pedra, caindo junto com as sacolas no chão. Todos gargalharam ao ver a cena.

- Chegamos a tempo, olha só o piloto chegando! – disse Lire, apontando para o lado.

O piloto vinha apressado na direção do grupo enquanto Ryan recolhia as bolsas que haviam caído com a ajuda dos amigos.

- Estão todos prontos? – perguntou, arfando ligeiramente. – Podemos partir?

- Com certeza! – respondeu Jin.

- Já estamos cansados e temos de repor nossas energias para amanhã – comentou Ronan.

Seguiram juntos até o norte da cidade com a instrução do piloto. O comércio da cidade já estava começando a encerrar naquela hora, pois as ruas estavam ficando vazias e a maioria das lojas estavam de portas fechadas. Saindo do centro comercial percorreram por uma pequena rua pavimentada que levava até a uma enorme escadaria.

- Olhem lá no topo! – exclamou Arme. – Aquilo é um castelo?

Do pé da subida podia-se ver uma grande construção de inúmeros andares, rodeada por pequenos prédios e uma muralha de pedra. Agora era difícil saber qual era o maior: se era a vila ou o terreno pertencente ao edifício.

- Este é o Templo Central de Altegria – explicou o piloto –, e provavelmente o lugar mais importante e imponente da vila. Aqui vive todo o clero e boa parte da nobreza, além dos cultos realizados a toda a comunidade.

- Irado! – elogiou Ronan. – Isso aqui é talvez maior que o castelo real de Canaban!

Sem perder mais tempo, começaram a subir as escadarias. Chegaram ao topo mortos de cansaço minutos depois. Atravessaram os portões e adentraram em um dos prédios menores que haviam ali. Na sala principal, o piloto dirigiu-se rapidamente ao balcão e voltou ao grupo com um molho de chaves na mão.

- Tomem, estas serão as chaves dos quartos de vocês – disse, distribuindo a todos. – Vocês ocuparão todos os quartos do segundo andar e cada um terá seu quarto individual. Ah, e o senhor Lass me pediu para avisá-los que não devem fazer barulho no corredor enquanto ele estiver dormindo.

- Coitada da Bela Adormecida... – disse Elesis, sarcasticamente.

- E me esperem no portão da escadaria amanhã às sete horas. Partiremos depois do café da manhã e iremos de carroça até o pé do monte. Boa noite!

- Boa noite! – desejaram todos em uníssono.

Os sete guerreiros subiram ao segundo andar e cada um foi abrindo a porta do quarto de suas respectivas chaves. Sonolentos, despediram-se:

- Boa noite, gente! – disse Ronan.

- Boa noite! – respondeu Lire.

- Durmam com os anjos e sonhem comigo! – brincou Arme.

- Só em um pesadelo! – caçoou Jin. – Durmam bem!

- Beijosmeliga! – despediu-se Amy.

- Beijunda pra você, Elesis! – brincou Ryan.

- QUÊ!? – esbravejou ela.

- Nada, esquece. Boa noite.

***

Eram seis horas da manhã. Não havia nem um ruído sequer pelos corredores do dormitório. Nenhuma alma viva ousava perambular àquela hora, ouvia-se apenas um leve rugido do vento que corria do lado de fora. Silêncio completo. Ou talvez seria se não fosse um detalhe.

- AAAAAAACCCOOOOOOOOOORRRRRRDAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

Ryan acordou energeticamente após um sono mal dormido, e ansioso não se agüentou ver parado no mesmo lugar e resolver acordar a todos, mesmo uma hora mais cedo. Ele desceu até a cozinha sem ser notado e afanou duas tampas de panelas e começou a bater e berrar pelo corredor.

- VAMOS ACORDAAAAAAAAAAAAAAR!

- Ryan, você tá louco ou o quê? – disse Lire, que apareceu detrás da porta do seu quarto com os olhos grudados de sono.

- ACORDANDOOOOOO!

- RYAN, VOCÊ TÁ LOUCO!? – berrou Lire, elevando sua voz sobre a algazarra.

- RYAN, VOCÊ COME TITICA? – gritou Elesis.

- PÁRA COM ISSO, ASSIM VOCÊ VAI ACORDAR O PRÉDIO INTEIRO!

Mas Ryan parecia ignorar completamente os amigos. Estava determinado a acordar todos eles, afinal estava empolgado e não queria esperar mais nenhum minuto. Naquele instante apenas o Lass não havia despertado. Aproximou-se da porta do quarto do garoto e bateu vigorosamente os pratos.

BOOM, POW!

Quase como uma flecha, Lass insurgiu arrombando a porta do próprio cômodo e acertando em cheio o rosto do elfo, jogando-o contra a parede oposta, deixando-o inconsciente, e isso tudo com apenas uma voadora. Todos ficaram boquiabertos demais para comentar o que acabaram de presenciar.

- Alguém quer ser o próximo? – duvidou Lass, batendo as palmas das mãos umas nas outras, como se estivesse limpando-as.

Ninguém foi burro ou corajoso o bastante para levantar a mão. Satisfeito, voltou ao seu quarto, imerso no silêncio absoluto que causara. Aos poucos, seus amigos repetiram o seu gesto e se esconderam dentro de seus devidos quartos para despirem o pijama, deixando Ryan desolado no chão.

- Ai... – choramingou ele.

Todos se trocaram depressa e desceram para um delicioso café-da-manhã (Ryan chegou atrasado e só pôde pegar uma maçã para comer). Automaticamente pegaram suas mochilas e saíram todos do alojamento em direção aos portões. Lá encontraram o piloto aguardando em uma grande carroça coberta por um tecido em forma de arco, liderado por dois cavalos de pelagem bege.

- Bom dia! – cumprimentou ele com gentileza. – Dormiram bem?

- Eu sim, mas eu acho que alguém não teve essa oportunidade – declarou Elesis, abafando um riso.

Sem entender, o piloto deu a partida dando uma guinada nas rédeas, ordenando os animais a trotarem pela estrada de chão afora. Foram conversando a viajem inteira, divertiam-se com pequenos jogos para passar o tempo (Lass não participou de nenhum deles, ao invés disso, tirou um pequeno cochilo com os braços cruzados atrás da nuca). Até que o assunto morreu depois de alguns minutos e todos ficaram calados apreciando o visual, que mudara de um campestre para um montanhoso, conforme subiam os montes. Passaram mais uma hora calados até que o veículo parou de se locomover lentamente. Um atrás do outro, desceram da carroça e visualizaram melhor o ambiente em que haviam chegado. O horizonte aberto revelava cadeias montanhosas cobertas por neve, e mais abaixo podiam ver uma pequena faixa verde que indicava as terras de Altegria. Era de admitir de que o clima havia esfriado consideravelmente a partir daquele ponto.

Eles haviam parado também em frente a uma pequena casa de madeira onde o piloto entrara rapidamente e voltou dizendo:

- A partir daqui vocês deverão seguir sozinhos – informou ele. – Peço que se agasalhem devidamente, pois a temperatura daqui pra frente será rigorosamente baixa. Estarei aqui neste alojamento o dia inteiro, portanto, aguardarei a volta de vocês quando já tiverem completado a missão. Isso é tudo, apenas desejo-lhes boa sorte e peço que tenham cuidado! – encerrou fazendo uma leve reverência.

- Muito obrigado novamente – agradeceu Jin.

- Fique tranqüilo, nós estaremos bem – tranqüilizou Lire.

Abrindo as mochilas, sacaram grossas luvas de lã, cachecóis, toucas, casacos e capas e as vestiram. Sem perder mais um segundo, seguiram o percurso a pé em direção ao topo dos montes.

A cada passo que davam mais flocos de neve caíam sobre suas cabeças, até o ponto em que fortes rajadas congelantes cortavam os rostos dos aventureiros. Todos tremiam de frio, Amy em especial.

- Ai, que frio! – gemeu ela, trepidando debaixo de sua capa de veludo rosa. – Nem mesmo os meus três casacos conseguem me aquecer!

- Não tem o que temer, minha linda! – disse Ryan. – Eu te dou o meu casaco! – e despiu o casaco que vestia e estendeu à garota.

- É sério? Muito obrigada! – agradeceu, pegando o casaco e dando um beijo na bochecha dele, deixando-o com o rosto vermelho. – Ah, mas você não vai sentir frio?

- É claro que na...A-A-A-A-ATCHIM! – espirrou Ryan.

- Eu acho melhor você... – balbuciou Amy.

- Não precisa...A-A-A-A-ATCHIM! ATCHIM! ATCHIM! – desatou a espirrar.

Amy saíra depressa de perto do Ryan, que não conseguia conter os espirros. As garotas observavam risonhas de longe pensando: “Que burrinho!”, enquanto os garotos faziam descaso do ocorrido.

Continuaram a atravessar a corrente gelada através do solo íngreme, agora passando por uma estrada um pouco estreita que circulava ao lado da montanha em forma de espiral. Mas algo parecia anormal para Lass até àquela hora. Abruptamente, tomou a dianteira do grupo, com uma das mãos sobre sua katana, pronta para ser usada, e a outra aberta na direção do grupo, como um sinal para que parassem.

- O que houve, Lass? – perguntou Arme. – Se quiser ir à frente, pode ir.

- Não é isso! – irritou-se. – Será que vocês ainda não perceberam? Estão nos seguindo!

- O quê!? – perguntaram todos em uma única voz.

- Apareçam! – ordenou ele.

Instantaneamente, ouviu-se um tremor e do alto do morro e instintivamente todos sacaram suas armas. De lá surgiram várias pedras que rolaram até a estrada, levantando poeira e neve e parando a frente deles com estrondo. Lentamente, desta pequena nuvem de poeira apareceram criaturas estranhas, de estrutura médio-alta, de cor azulada, ombros largos, punhos grandes e corpo composto de gelo.

- Há, é só isso? – debochou Lass.

- São golens de gelo! – admirou-se Ryan. – E muitos deles!

---------------------------

Capítulo IV – O manto negro

- O que faremos? – perguntou Amy. – Eles são mansinhos, não são?

- Claro que não, Amy! – vociferou Elesis.

- Na verdade, eles geralmente não atacam sem motivo – acrescentou Lire. - Devem ter vindo atrás da gente para proteger o território deles.

- Fiquem atentos! – advertiu Ronan a todos. – Eles não parecem nada contentes com a nossa visita.

De fato, os golens se aproximavam do grupo lentamente batendo os punhos de forma ameaçadora. Lass, sem perder tempo, sacou sua katana e desferiu um corte na altura do ombro da criatura, mas não conseguiu proporcionar nenhum dano a ela graças a sua armadura de pedra gelada.

- Lass, ataques normais não funcionam contra os golens! – disse Lire. – O segredo é perfurá-los em uma fenda que fica no meio da barriga deles!

- Entendi – respondeu Lass, analisando a barriga do monstro que atacara.

O golem tentou golpeá-lo, mas Lass esquivou-se a tempo, agachando-se, e como contra-ataque perfurou a fenda na sua armadura e fez um corte horizontal, partindo-o ao meio.

A derrota do golem serviu de estopim para o ataque do resto do bando das criaturas. Sem cerimônia, os integrantes do Grand Chase adotaram a mesma tática e partiram para cima. Elesis enfiava os dois sabres juntos no estômago dos golens e separava-os ali mesmo, partindo-os ao meio. Ronan perfurava-os com a luva mágica de sua mão esquerda e causava uma explosão com ela, deixando-os em pedacinhos. Lire lançava flechas de energia dentro deles que os explodiam igualmente. O resto do grupo encontrava dificuldades em lutar.

- As minhas tonfas não funcionam, a armadura deles é muito resistente! – comentou Jin, escapando de dois golens que teimavam em perseguí-lo.

- Muito menos o meu báculo! – concluiu Amy, após acertar a base de sua arma na cabeça do monstro, sem conseguir provocar efeito algum.

- Nem me fale! – disse Ryan, cutucando com a ponta de sua arma na barriga de um dos golens. – A minha pique é grande demais para atravessar a fenda. ATCHIM! – e espirrou.

- Bola de fogo! – exclamou Arme, lançando uma esfera em chamas no peito de um golem que vinha em sua direção, mas ela apenas evaporou com o contato. – Droga, eu não conheço nenhuma magia que possa quebrar a defesa deles!

A luta continuou a rolar incessantemente. Os que podiam atacavam, e os que não podiam mantinham-se na defensiva, somente Arme conseguia ajudar, congelando os monstros para dar aos amigos a chance de um contra-ataque. Mas o interessante era que quanto mais eles derrotavam, mais golens apareciam.

- Droga, eles são muitos! – admitiu Elesis.

- Nós não podemos perder muito tempo com eles – disse Ronan –, temos que prosseguir com a missão.

- Isso quer dizer que vamos ter de nos separar? ATCHIM! – perguntou Ryan.

- Sim – afirmou Ronan. – Um grupo ficará para distrair os golens enquanto o outro seguirá o caminho em busca da fugitiva.

- Ok, vamos nos dividir assim: eu, Ronan, Elesis e Lass ficaremos para a batalha. Amy, Jin, Ryan e Arme avançarão, pois são os únicos que não conseguem lutar – opinou Lire.

- Ótima idéia – elogiou Arme. – Não vamos perder mais tempo, vamos andando, grupo!

Arme montou em cima de seu cajado como se fosse uma vassoura mágica e levantou vôo, sobrevoando a horda de monstros. Jin, Ryan e Amy seguiram-na, pulando de golem em golem até chegar o outro lado, e juntos correram pela estrada. Algumas das criaturas tentaram impedi-los de fugir, mas Lass interveio brandindo sua katana à sua frente, ameaçando-os.

- Daqui vocês não passam, suas aberrações! – disse ele.

- Valeu pela ajuda, Lass! – agradeceu Jin.

Mas Lass apenas acenou com a mão para que se apressassem em partir. Jin obedeceu e correu atrás de seu grupo.

- Pessoal, alguém tem algum plano? – perguntou Jin, ao se aproximar da equipe.

- Bem, estamos exatamente no meio do percurso referente ao paradeiro da fugitiva – informou Arme acima de seu cajado voador, consultando um mapa que retirara de sua mochila. – Se não a encontrarmos pelo caminho seria mais seguro reagruparmos ao restante da equipe para voltarmos à Altegria.

- Ok. Vamos apertar o passo, então – pediu Jin.

Prosseguiram correndo pela ladeira coberta de neve que agora estava descendo, ainda fazendo círculos entre os montes. O clima entre eles estava muito tenso, todos preocupados com o que estava acontecendo com o grupo que permanecera a lutar. Corriam o mais rápido que podiam, mesmo cansados tentavam superar a própria fadiga, mas Ryan parou repentinamente, esfregando a sua testa com força.

- O que houve, Ryan? – perguntou Amy. – Já cansou?

- Não, não é isso – respondeu, balançando a cabeça negativamente. – Estou com uma enorme enxaqueca e uma tontura... ATCHIM!

- Ah! – exclamou Arme. – Não é pra menos, já que você tá sem casaco há muito tempo, e pegou até um resfriado! Toma, pega esse frasco de poção revigorante, deve resolver o seu problema – e entregou um frasco de vidro contendo um líquido avermelhado ao amigo.

Ryan tirou a rolha da boca do frasco e tomou rapidamente toda a poção que havia nele. Em poucos segundos sua cabeça começou a ficar vermelha como um pimentão, seu corpo todo ficou muito quente e suas orelhas expeliram jatos de fumaça como se fossem duas pequenas chaminés.

- Caramba, essa é poção revigorante mais forte que eu já tomei na minha vida, obrigado Arme! – agradeceu Ryan.

- De nada. Podemos prosseguir?

- Sim. A minha dor não passou totalmente, mas tudo bem, vamos andando – confirmou ele.

Retomaram a correr pela estrada no mesmo clima pesado de antes, todos estavam completamente mudos, aflitos demais para falar. Minutos e mais minutos se passaram, até chegar a um caminho completamente obstruído pela neve.

- Essa não, fim da linha! – lamentou Amy.

- Como vamos passar? – perguntou Jin.

- Sem problemas! – disse Arme, descendo do cajado. – Afastem-se, por favor!

Todos foram para trás da garota e observaram esta desenhar um círculo mágico no ar, girar o seu cajado entre os dedos da sua mão direita estendida no alto e em seguida tocá-lo no círculo.

- Rajada de vento!

Uma corrente de vento descomunal saiu do círculo e atingiu a parede de neve, abrindo aos poucos uma passagem entre ela.

- Urgh! – exclamou Ryan, esfregando sua testa novamente. – Arme, eu não tô legal...

- Ryan, agora não! – respondeu ela, sem dar muita atenção.

No minuto seguinte, a montanha de neve já estava quase desaparecendo, todos observavam admirados o fenômeno mágico (exceto Ryan, que estava ocupado demais com a sua enxaqueca para notar). Até que, inesperadamente, um ruído irritante ecoou do fundo da passagem.

- Ai! – exclamou Amy, tapando os ouvidos com as mãos. – Que barulho é esse?

- Arme, desfaça a magia para podemos ver o que está acontecendo! – pediu Jin.

Arme separou o cajado do círculo e a mágica se desfez, junto com o ruído. Lá no fundo puderam ver: havia no meio do caminho uma espécie de cúpula negra que soltava pequenas centelhas elétricas. Os quatro se aproximaram para ver melhor.

- Gente - chamou Ryan, cambaleando para acompanhar os amigos -, eu acho que...

- Eu acho que tem alguma coisa lá dentro – disse Amy, levando sua mão até a redoma escura.

- Não toque nisso, Amy, pode ser perigoso! – alertou Arme, segurando a mão da amiga antes que ela tocasse.

Parando para observar melhor, Amy realmente estava certa. Por fora era difícil de ver, havia um tipo de fumaça negra no interior que impedia avistar algo, mas era possível notar uma silhueta de uma pessoa lá dentro.

Arme afastou-se alguns passos da cúpula e lançou uma bola de fogo nela. A bola foi absorvida pela superfície negra, fazendo-a liberar mais centelhas por um instante.

- Essa coisa é feita de magia negra – informou ela. – Provavelmente nenhuma mágica que eu fizer fará efeito nisto, por isso precisaremos de grande força física para quebrá-la, além do mais... Ryan, você está pálido... RYAN!

Ryan desabou no chão inconsciente, tremendo como se estivesse tendo uma convulsão.

- Ryan, o que tá acontecendo? – perguntou Jin, aproximando-se do amigo.

Bruscamente, Ryan acerta um soco no peito de Jin, lançando-o para longe. Porém, não era o mesmo Ryan de antes: pêlos começavam a sair de todo o seu corpo, no seu rosto formara-se um focinho e presas enormes surgiam na sua arcada dentária, além das grandes garras em suas mãos; Transformara-se em um lobisomem.

Em um piscar de olhos, o Ryan lobisomem levantou-se e no segundo seguinte estava em cima do Jin, tentando mordê-lo e arranhá-lo. Este relutou com todas as forças para não ser atacado, segurando as duas garras com as mãos e contendo as presas com um aperto do pé direito. Ficaram se atracando no chão frio, até que Jin chuta Ryan, fazendo-o se afastar. Ryan corre novamente ao encontro do colega, este tenta acertar um soco no instante que se aproximara, mas Ryan, numa grande agilidade, desaparece de sua frente e reaparece às suas costas para o contra-ataque.

- Chute mara!

Amy acerta um chute reluzente na cara do lobisomem, fazendo-o chocar-se contra o muro da montanha, e com o choque um monte de neve cai sobre ele, atolando-o.

- Porque diabos ele se transformou e está nos atacando? – perguntou-se Jin, estarrecido.

- Não faço idéia – declarou Arme -, mas tem algo errado, ele não se transformaria assim do acaso. Temos que arranjar uma maneira de prendê-lo por um tempo até que a transformação se desfaça.

- Lá vem ele! – alertou Amy.

Ryan se recuperou e correu veloz em direção à Arme.

- Ah... Congelar!

Arme lançou um raio em forma de floco de neve contra Ryan, mas ele se esquivara facilmente. Arme fica sem reação diante da tremenda velocidade do lobisomem, mas Jin intervém no último instante acertando um soco no queixo dele. Ryan aterrissa de pé no chão, não perde tempo e avança como um raio para cima de Amy. Amy tenta acertar a base de seu báculo na cabeça dele, porém ele desaparece e reaparece às suas costas novamente para contra-atacar. Jin aproveita o momento e o agarra pelas costas, prendendo seus braços antes que ele pudesse desferir algum corte na garota.

- Nós não caímos no mesmo truque duas vezes! – disse Jin ao lobisomem. – Anda Arme, congela ele!

- Mas... você vai ser atingido também! – advertiu ela, relutante.

- Não importa. Anda logo, eu não vou conseguir segurá-lo por muito tempo – disse Jin, apertando com mais força o lobisomem que não parava de se debater.

Arme, sem argumento, apontou hesitante o seu cajado em direção aos dois e disse:

- C-congelar!

O floco de neve atingiu-os, deixando-os presos completamente em um grande cristal de gelo. Arme sentou-se no chão preocupada, olhando sem parar para os rostos dos amigos, imobilizados como um estátua.

- Jin, Ryan... Será que vocês vão ficar bem? – murmurou Arme para si mesma.

- Eu espero que sim – consolou Amy. - Vamos esperar pra ver.

Esperaram juntas em frente aos dois amigos, até que, minutos depois, Ryan começou a se modificar, seus pelos começaram a sumir junto com suas presas e garras: ele retomara a sua forma original. Arme se aproxima do gelo e o toca com a ponta do seu cajado, fazendo-o derreter rapidamente. Uma vez libertos, caíram no chão tremendo de frio.

- F-f-f-f-f-frio! – gemeram os dois.

- Ryan, Jin, tomem rápido a poção revigorante! – disse Arme, entregando frascos da poção aos dois.

Beberam a poção rapidamente e logo o corpo de ambos se aqueceu, expelindo fumaça pelas orelhas.

- Ryan, o que aconteceu com você? – quis saber Arme.

- Eu não sei, só me lembro de uma voz, alguém me ordenando atacar qualquer humano que eu visse, e então eu me transformei em lobisomem, involuntariamente – concluiu ele.

- Será que...? – perguntou-se Arme, olhando para a cúpula.

- O que foi, amiga? – questionou Amy.

- Jin, vamos quebrar aquela coisa! – pediu Arme.

- O quê? – confundiu-se Jin.

- Esse troço só vai quebrar com força bruta, e você é o mais qualificado para isso! – informou ela.

- Ok, já entendi.

Jin se aproximou da cúpula, respirou fundo e acertou um soco nela, que não provocou efeito algum. Tentou desferir dezenas de socos rápidos, mas nada aconteceu.

- É assim mesmo, só tenta usar uma pouco mais da “concentração”! – ajudou Arme.

Jin deu um passo para trás e começou a se concentrar. Uma áura dourada começou a emanar de seu corpo, estava elevando sua “fúria”. No instante seguinte correu até a cúpula e acertou um poderoso soco de energia.

- Fúria da tempestade!

Mas nada mudou.

- Ai, ai, pelo visto não dá certo... – concluiu Ryan.

- Não, olhem de novo! – exclamou Arme.

Aonde Jin havia acertado agora continha uma rachadura, que começou a se alastrar aos poucos por toda a superfície da redoma, e por fim esta estilhaçou-se em milhares de pedaços que caíram no chão. A fumaça escura e quente que havia ali dentro se dissipou no ar, revelando a pessoa que estava presa o tempo inteiro dentro da cúpula.

- Ei, é a Nina! – exclamou Jin para os amigos.

Todos se aproximaram para ver. Nina estava caída no chão, desacordada. Vestia uma roupa esfarrapada e suja e estava muito magra.

- Ela ainda está viva – disse Ryan, consultando a pulsação da menina. – Temos de agasalhá-la pra que ela não sofra um choque térmico nesse frio.

Arme tirou um grosso agasalho de sua mochila e vestiu-o em Nina. Tirou também mais um frasco da poção revigorante e o desenrolhou.

- Ela está em péssimas condições de saúde, talvez um pouco da poção possa ajudá-la – e assim virou todo o conteúdo na boca dela.

A cabeça da Nina começou a se avermelhar e fumegar, mas o efeito não a despertou.

- Poxa vida, ela precisa de um médico urgente! – exclamou Arme.

- Coitadinha, ela parece ter passado por muitas dificuldades... – confessou Amy.

- Já que a encontramos é melhor voltarmos logo, temos que nos juntar ao outro grupo depressa – e dizendo isto, Jin levanta Nina e a coloca sobre as suas costas.

- Vamos! – afirmou Amy.

***

Enquanto isso, o outro grupo lutava incessantemente contra os golens, já estavam travando esta batalha há horas, nenhum dos integrantes estava agüentando manter-se de pé. Em contraposição, os golens não paravam de surgir de todos os cantos e começaram a encurralar os heróis. Estavam eles ali, no centro de um círculo rodeado de monstros e mais monstros, sem ter como sair.

- Arf... será que eles não... arf... não vão parar de... arf... de vir? – disse Lire estarrecida, arfando sem parar.

- Arf... se eu continuar aqui... arf... eu vou morrer de cansaço! – resmungou Elesis, cansada.

- Parem de reclamar e lutem como gente de verdade! – esbravejou Lass.

- Temos de esperar os outros chegarem para acharmos um jeito de fugir daqui juntos – disse Ronan, escapando por pouco de um ataque esmagador de uma das criaturas que se aproximara sorrateiramente.

Subitamente, um rugido grotesco ecoou ao longe pelo ar gelado até o campo de batalha. Quase como se estivessem obedecendo a uma ordem, todos os golens cessaram os ataques e ficaram imóveis, tão imóveis que pareciam ter perdido a própria vida. Um segundo rugido foi ouvido e estes partiram em retirada agitadamente, um para cada lado.

- Mas... o quê? – surpreendeu-se Elesis – Eles estão fugindo?

- Há! Frangotes, eu queria ter terminado com todos eles – esnobou Lass.

- Que estranho, que som foi esse agora...? – perguntou Lire – ...o que é aquilo!?

Uma bola de neve enorme começou a descer o paredão da montanha em alta velocidade, derrubando tudo o que passava por cima e atingindo o chão da estrada com um grande estrondo. Dessa bola de neve surge um golem de mais de doze metros de altura, que ruge mais uma vez ao ver a equipe do Grand Chase a sua frente, todos eles pasmos.

- É um golem gigante! – disse Lire, boquiaberta. – Deve ser o líder deles!

- Então os golens devem ter ido embora por ordem do líder – deduziu Ronan.

- Será que temos alguma chance contra ele? – perguntou Lire voltando-se para o grupo.

- Lire, cuidado aí! – gritou Elesis.

- AAAAAH!

Sem que ela percebesse, o golem puxou Lire com a pontinha de seus dedos gigantes pela sua capa e a ergueu no ar até acima de sua cabeçorra.

- Cof... me solta, tá me sufocando... cof! – exigiu ela quase engasgada, agitando-se inutilmente no alto.

Lass tomou a dianteira e tentou fincar sua katana no largo estômago do bicho, mas não conseguiu penetrá-lo nenhum centímetro.

- Droga, este aqui não tem nenhum tipo de fenda! – informou Lass.

- LIRE!

Tarde de mais. Antes que seus amigos pudessem ajudar, o golem abriu sua boca torta e largou-a sobre ela para devorá-la. Mas um rápido vulto passou por perto e aparou-a em seus braços em meio à queda.

- R-Ryan! – admirou-se Lire.

Ryan era quem havia emergido de trás do monstro para salvá-la, e juntos pousaram próximos aos outros companheiros.

- Ryan, muito obrigada!

- Ah, não tem de quê! – respondeu ele meio envergonhado e colocando a menina no chão.

- Ryan, onde está o resto do pessoal? – perguntou Elesis.

- Aqui!

Jin, Amy e Arme vinham apressados ao encontro dos amigos.

- Vocês conseguiram achá-la! – admirou-se Ronan, ao ver Nina às costas de Jin.

- Pois é, ela deu bastante trabalho, mas explicaremos isso depois – disse Jin, encarando firmemente o golem. – Temos que cuidar desse grandão primeiro.

O golem, cansado de ficar estacado na mesma posição observando curiosamente os aventureiros, resolve rugir mais uma vez e mais alto. O ruído provocou um pequeno tremor que fez cair do alto da montanha porções grandes e pesadas de neve.

- Cuidado! – alertou Arme.

A neve quase atinge o grupo, que se desviara no último instante. Amy, com estranho brilho no olhar toma a dianteira do grupo e se aproxima do golem.

- Gente, tive uma grande idéia, podem ir embora sem mim! – anunciou ela, sorridente.

- Como? O que você pensa que vai fazer? – perguntou Elesis, descrente.

- É segredinho! – disse ela, abanando a mão. – Eu não posso estragar o show!

- Tá bom, vai em frente – disse Elesis. - Mas tomara que você não volte viva pra não estragar o “nosso” show.

- Elesis, não seja rude! – exclamou Lire, enquanto Amy estendia a língua para a Elesis. – Amy, você tem certeza?

- Aaaaabsoluta!

- Ok. Pessoal, vamos de pressa! – pediu Lire. Todos obedeceram sem pestanejar, e juntos correram em direção à Altegria.

- Bem grandão, fique sabendo que eu não vou perder pra você! Vamos ver quem tem a voz mais potente daqui.

Assim, firmou a base de seu báculo no chão, tomou todo o fôlego que seu pulmão podia agüentar e berrou:

- ESCÂÂÂÂNDALOOOOOOOOOO!!!

A sua voz, dezenas de vezes ampliada graças ao báculo, percorreu estrondosamente por toda a extensão da cadeia montanhosa. Mais um ruído foi ouvido do alto, e dessa vez uma avalanche colossal vinha deslizando desde o topo por toda a montanha.

- Fim do show, monstrinho! – disse Amy meigamente, lançando-lhe um beijo com a palma da mão – Beijosmeliga!

E então Amy correu o mais depressa que podia para escapar da avalanche. Esta atingiu o golem gigante violentamente, cobrindo-o por completo, fazendo a estrada desaparecer.

- Pessoal, corram mais depressa! – gritou ela, após alcançar os amigos minutos depois.

- Amy, que foi... ah, avalanche! – assustou-se Lire.

Todos correram desabaladamente para fugir do enorme cobertor de neve que se aproximava.

- E o golem? – quis saber Jin.

- Acabei com ele! – disse Amy fazendo um “V” de vitória com dois dedos.

Minutos depois a avalanche parecia diminuir de volume, até que se chocou totalmente com o paredão rochoso em uma curva no fim da estrada. Os heróis pararam há alguns metros de distância dali para descansar.

- Arf... nunca mais faça isso... arf... ouviu Amy? – alertou Elesis, arfando a plenos pulmões.

- O que importa é que conseguimos cumprir a nossa missão, sãos e salvos! – alegrou-se Lire.

- Isso mesmo. Lothos vai ficar contente com isto! – disse Ronan.

Todos observavam Nina por um instante, calados. Até que Jin disse:

- Vamos voltar à Altegria?

- Claro, vamos comemorar o nosso sucesso! – festejou Ryan.

Sendo assim, desceram as montanhas até a cabana de madeira onde o piloto estava e com ele tomaram a carroça em direção à cidade.

---------------------------

Capítulo V – A premonição de Arme

Seguiu-se que, enquanto estavam na viagem de carroça de volta à cidade de Altegria, os integrantes do Grand Chase contavam animadamente cada detalhe de sua missão que há pouco haviam completado. Elesis narrava a todos o momento em que fincara seus dois sabres em um dos golens e, em um grande arremesso, lançou-o violentamente contra parede de pedra; e Ronan descrevia como partiu um golem ao meio usando apenas as suas próprias mãos. Ryan e Jin se encarregaram de contar o que acontecera ao outro grupo nesse meio tempo.

- Quando me dei conta eu já tinha me transformado em um lobisomem e comecei a atacar todo mundo! – exaltou-se Ryan, ao ver o rosto de assombro dos amigos.

- Foi nesse momento que eu peguei minhas tonfas e tentei parar o Ryan – acrescentou Jin -, só que ele era mais ágil e quase me acertou. Se a Amy não tivesse feito algo para me salvar eu estaria em um sério problema agora – e deu uma piscadela para Amy, e esta deu um risinho em resposta.

- Foi aí que eu despertei meu verdadeiro instinto bestial, e, sem dó nem piedade, torturei, esquartejei, decapitei, trucidei, cortei e matei todos eles! – vibrou Ryan com uma risada diabólica, agora quase saltando para fora da carruagem de tanta alegria.

Ao momento só puderam providenciar um silêncio absoluto.

- Não exagera, Ryan! – alertou Jin.

- Pára de querer aparecer! – exigiu Lire com severidade.

- Você fez isso tudo com a gente? – perguntou Amy inocentemente, quase chorando.

- Não seja burra, Amy! – resmungou Elesis rispidamente. – Se isso acontecesse você teria perdido o seu cérebro, se é que você já teve algum...

Amy caiu no choro exageradamente. Arme e Lire tentaram consolá-la, dando tapinhas nas suas costas entre um soluço e outro.

- Elesis! Pára de falar feita uma mula! – vociferou Arme.

- Como é que é? – rebateu Elesis, levantando-se de seu acento ameaçadoramente.

- Briguem, briguem! – atiçou Ryan.

- Ei, ei, ei! – disse Ronan, alteando a sua voz para sobressair-se em meio à briga, segurando Elesis pelo ombro para que ela não avançasse para cima de Arme. – Podem parar agora mesmo! E pare de complicar as coisas, Ryan! – gritou, ao ver que Ryan continuava a estimular a briga. – Que guerreiros são vocês, que brigam com os próprios amigos enquanto deviam guardar tudo isso para os inimigos?

Todos permaneceram quietos e cabisbaixos sob o sermão do garoto. Este tornou a se sentar e disse:

- Será que podemos continuar a história em paz?

Então, sob um respeitoso silêncio, Arme contou aos amigos como encontraram Nina no meio do percurso, como ela estava presa na cúpula negra e seus esforços para a tirarem de dentro dela, inclusive como tiveram de parar o ataque súbito de Ryan, detalhe por detalhe. Ao terminar, todos pareciam observar Nina pelo canto do olho, na qual esta estava deitada debaixo de um cobertor no fundo da carroça ao lado de Lass (este estava cochilando sossegado na sua habitual posição de braços cruzados atrás da nuca), dormindo tranqüilamente.

- Mas por que será que ela estava dentro daquele negócio quando vocês a encontraram? – coçou-se Lire a perguntar. – E por que será que Ryan se transformou de repente?

- Não tenho certeza, mas eu tenho uma hipótese. – admitiu Arme.

- Hipótese? – repetiu Lire. – E qual seria?

- Aquela câmara de ar quente era feita por magia negra, e daquelas sinistras! – afirmou ela. – Só um mago negro poderoso o suficiente poderia ter feito algo daquele nível. E como vocês sabem, magia negra geralmente é praticada por seres malignos e impuros. Mas querendo ou não ser bonzinho, a pessoa que o fez com certeza teve a intenção de proteger a Nina, afinal quem iria conjurar uma cúpula quente para abrigá-la e protegê-la?

- Nisso você tem razão – aceitou Jin. – Mas onde fica o Ryan nessa história? Você acha que este alguém estava ali por perto provocando tudo?

- Calma, já vou chegar lá! – pediu Arme. – A pessoa não precisava estar lá a todo instante. Creio eu que ela havia colocado uma maldição na cúpula.

- Maldição? – perguntaram todos em uníssono, com uma nota de espanto na voz.

- Isto mesmo, se é que posso chamar assim. A pessoa, qualquer que seja, deve ter lançado um feitiço na Nina para que todas as criaturas vivas nos arredores fossem obrigadas a protegê-la a qualquer custo, eu pessoalmente já tinha ouvido falar de um feitiço assim alguma vez. Isso explica o fato dos golens terem nos atacado, explica por que Ryan foi forçado a se transformar em lobisomem para nos atacar quando chegamos perto dela!

Todos murmuraram entre si com assombro e concordância. Por fim, Ronan perguntou:

- O que devemos fazer em relação a essa pessoa? Será que esta do nosso lado?

- Não faço idéia, mas não podemos deixar de relatar isso para a comandante Lothos. – concluiu Arme.

Passaram minutos e mais minutos dentro da carroça discutido quem poderia ser a pessoa que protegera Nina a todo instante, sem nenhum resultado relevante, até que a velocidade diminuiu e, descendo do veículo à luz da tarde, viram-se diante do grande portão de madeira do Templo Central.

- Senhores, gostaria de avisá-los que, por ordem da comandante Lothos, partiremos para o quartel-general amanhã às onze horas da manhã – informou o piloto. – Por enquanto, estou encarregado de fazer uma checagem final na nossa aeronave, e vocês estão dispensados para fazerem o que quiserem pelos arredores da vila até a nossa partida.

- Beleza! – comemorou Ryan.

- Ah – exclamou Arme, lembrando-se subitamente de um detalhe e olhando para o dentro da carroça onde Nina dormia naquele momento -, e quanto à fugitiva?

- Não se preocupe, Lothos me pediu para que a levasse de volta ao presídio, caso vocês a achassem. Lá devem cuidar do resto.

A resposta do piloto não agradou muito aos ouvidos de Arme e dos outros e foi recebida com um silêncio imediato. Jin logo tratou de quebrar o clima tenso:

- Então, nos encontraremos amanhã aqui às onze?

- Sim.

- Só mais uma pergunta – apressou-se Ronan a dizer antes que fossem embora. – Qual é o seu nome?

- Ah, mil perdões! Como pude me esquecer de me apresentar depois de tanto tempo! – desculpou-se meio sem graça. – Meu nome é Basílio, prazer! – e fez uma ligeira reverência.

- Prazer! – disseram todos em resposta.

- Uma boa tarde para os senhores e até amanhã! – despediu-se, subindo na carroça e dirigindo-a a dar meia-volta pela estrada de chão.

- Certo! Agora temos o dia inteiro para aproveitar! – disse Ryan.

- O sol ainda está perfeito! – comentou Lire. – Que tal irmos à praia?

- Excelente idéia! – aprovou Arme.

- Oba! É hoje que vou poder experimentar meu novo maiô! – vibrou Amy. – Com “licencinha” que eu vou me trocar.

- Ui, imagina só a Amy de maiô...! – balbuciou Ryan, babando para uma visão maliciosa muito distante em sua mente.

- Ah, seu pervertido! – exclamou Elesis indignada, dando um forte tapa na cara do garoto, deixando sua bochecha vermelha.

- Ai, tá bom, desculpa! – choramingou ele, massageando o rosto sob as gargalhadas dos amigos que observavam a cena.

Juntos, os oito companheiros seguiram cada um para o seu devido quarto para despirem a roupa de batalha e, em troca, vestirem a roupa de banho. Depois, atravessaram o portão, desceram as escadarias e atravessaram a cidade para chegar até o litoral da vila, onde se encontrava uma praia de areias brancas e macias e um mar azul claríssimo que se estende por toda a parte sul do local.

- Uau, que lugar lindo! – elogiou Amy ao chegarem, respirando fundo o ar marítimo e correndo para se banhar no mar.

- Amy, espera! – pediu Ryan, com um olhar sonhador.

- Quem quer jogar futebol? – perguntou Jin, tirando uma bola da sacola que trouxera junto com ele.

- Eu topo! – disse Ronan prontamente.

- Não, obrigado, eu passo – murmurou Lass sem vontade, e se retirou para baixo da sombra de um coqueiral para se sentar e observar o mar.

- Ai, ai, por que será que homem só pensa em futebol? – perguntou Elesis sarcasticamente. – Eu prefiro tomar um banho de sol – e assim estendeu sua canga a metros dali e se deitou à luz dos raios solares.

- Vamos com você, Elesis! – disseram juntas Arme e Lire e juntaram-se à amiga.

E assim cada um aproveitou o momento a sua maneira: Amy e Ryan se banhavam pelas ondas e brincavam tolamente de construir castelinhos de areia; Ronan e Jin revezavam entre jogar futebol e vôlei de praia juntos; Elesis, Lire e Arme conversavam aos cochichos enquanto pegavam um bronzeado; e Lass, como sempre individualista, continuou mudo no seu canto e agora limpava delicadamente a sua katana com um pequeno pedaço de algodão.

A hora foi passando e o animado sol se transformou em um crepúsculo acompanhado de uma escuridão crescente. Jin recolheu a bola de futebol e gritou para os amigos:

- Pessoal, já está na hora de irmos embora!

Todos obedeceram e pararam de fazer o que estavam fazendo para se reunirem. Ryan e Amy voltaram após terem construído juntos dezenas de castelinhos (Amy estava chorando por Ryan ter tropeçado debilmente em um deles). Arme, Elesis e Lire guardaram suas cangas. Lass, que há pouco pegara um livro para ler, guardou-o na mochila, levantou-se e seguiu para perto dos amigos.

- Para onde vamos agora? – perguntou Lire.

- Vamos para o alojamento para nos trocarmos – sugeriu Ronan -, e de lá podemos ir ao centro da cidade.

- Ok, é melhor irmos andando, eu estou morrendo de fome – finalizou Ryan.

Voltaram depressa para o alojamento e, em seus respectivos quartos, puseram as roupas mais elegantes que tinham e desceram rumo ao centro da cidade debaixo do brilho do luar.

Foram direto a uma lanchonete onde puderam comprar sanduíches, salgados e refrigerantes para saciar a fome e sede que tinham, inclusive fizeram um rápido brinde ao sucesso da missão. A partir daí seguiram vila afora, adentrando de loja em loja para fazer compras. Assim foram neste ritmo até tarde da noite.

- É melhor irmos embora, está ficando tarde – informou Ronan, quando o grupo todo estava reunido em um banco de uma praça.

- Hã? Mas já? – protestaram Amy e Ryan juntos.

- Ronan tem razão, nós temos de acordar cedo amanhã, certo? – disse Lire.

- Logo agora que estava ficando tão divertido... – reclamou Ryan.

Voltaram sem pressa para o abrigo, conversando, cantarolando e rindo animadamente. Chegando lá, vestiram os seus pijamas aos bocejos e despediram-se para a longa noite de sono.

- Boa noite! – desejou Lire.

- Pra você também! – replicou Ronan.

- Bons sonhos! – disse Amy, fechando-se em seu quarto.

- Durmam bem para acordarem amanhã cedo! – lembrou Jin.

- Tá bom, boa noite! – despediu-se Arme.

E fechando a porta, Arme deitou-se à cama, jogou o cobertor sobre si, fechou os olhos e adormeceu.

***

Sentindo uma leve brisa soprar pelo seu rosto, Arme abre os olhos lentamente e se vê em um ambiente totalmente inesperado. Estava de pé no meio do completo vazio. Sua cama, seus pertences e até seu o próprio quarto desapareceram. Dando um passo à frente, sentiu seus pés descalços tocarem algo molhado, e olhando para o chão percebeu que estava de pé sobre a superfície das águas. Seria aquilo um sonho? Mas parecia tudo tão real, pensou ela.

Até que viu ao longe: havia algo incomum, uma espécie de sombra bruxuleante estava pairando em sua direção. A sombra se aproximou da garota e após uma pequena pausa perguntou:

- Então, queres saber toda a verdade?

- Hã? Quem é você? – perguntou Arme, espantada.

- Saber quem eu sou é algo vão neste momento – falou a sombra, veemente. - Queres realmente saber toda a verdade?

- Mas... verdade do quê?

- A minha verdade, e a verdade detrás da minha protegida.

- Eu... não entendo...

- Então, farei com que tu entendas.

Um brilho de cegar os olhos acendeu-se por todo o espaço vazio, e Arme percebeu que algo penetrando dentro de sua cabeça, algo vindo de um lugar distante no tempo, em que parecia estar acontecendo em sua mente.

Poucos anos após ser fundada, a vila de Altegria parecia finalmente prosperar depois das intermináveis lutas do povo em busca da Terra Prometida. Alegres pela benção que receberam, os altegrianos enchiam o altar do templo de diversas oferendas e dízimos como forma de demonstrar a gratidão que sentiam pelos deuses, chegando a formar um vínculo perpétuo de lealdade com eles.

Mas com o passar do tempo, o vínculo já estava se corroendo. Roubos, assassinatos, blasfêmias e ódio estavam sendo plantados nos corações das pessoas aqui e acolá, e isto não agradava nada aos seus deuses, pelo contrário, eles pareciam ter se arrependido de terem doado as novas terras aos homens.

Foi aí que tiveram uma idéia: testariam o povo para ver se realmente mereciam o seu perdão e deles iria eleger pelo menos uma pessoa que irá guiá-los para longe do mal.

Em um dia desses, uma linda jovem de cabelos negros e olhos verdes estava passando pela sua rua deserta junto com seus amigos, até que ouviu-se gemidos que vinham de dentro do matagal que margeava o lugar. Procurando pela fonte, a garota encontra uma mulher caída no chão de vestido branco que possuía o rosto vetado por uma venda de pano; de seus pulsos pendiam correntes, e nas suas costas havia um par de belas asas brancas cobertas de penas. Desesperados, os garotos decidem procurar ajuda. Levaram a moça para a sua casa e lá seus pais puderam cuidar dos seus ferimentos.

Logo no dia seguinte, ao acordar cedo de manhã, a menina de olhos esmeralda ouvira de sua cama pequenos sussurros e, aproximando da moça de asas brancas que estava em outro cômodo, ouvira-a dizer baixinho:

“Um desejo pelo teu segredo.”

Surpresa, a mocinha decide chamar os pais para que a ouvissem também. Sua mãe se aproxima da mulher e, próximo ao de seu ouvido, experimenta fazer a ela uma rápida confissão: confessou que estivera precisando muito de comida ultimamente, afinal havia uma crise de fome assolando toda a vila naqueles tempos.

No outro dia, a jovem de vestido continuava adormecida na cama em que estivera, porém, para felicidade da família, as hortas que cultivavam em seu próprio terreno e que serviam para o seu auto-sustento haviam produzido dezenas de vezes mais. Aliás, as poucas galinhas que possuíam puseram muito mais ovos, e das vacas ordenhadas conseguiram retirar uma quantidade de leite assustadora. Juntando todos esses acontecimentos, a família transcorreu por um período de fartura à mesa, e, lembrando-se de sua confissão, a mãe logo ligou esta ocorrência ao pedido que fizera ao anjo que se hospedava em seu próprio teto. Assim, todos os dias a família parava em frente a sua cama para desejar algo, e por isso tudo de bom lhes acontecia.

As pessoas da vila começaram a se perguntar o porquê desta família estar sendo tão bem-sucedida, enquanto muitos moradores passavam por um aperto tremendo. Certa vez, os amigos da menininha fizeram-lhe esta mesma pergunta, e ela contou lhes tudo, sobre o anjo, os pedidos e as suas realizações. Estes, porém, repetiram a história para seus pais, que em seguida espalhou-se por quase todo o vilarejo. Ao saberem de tal caso, todos decidiram passar de vez em quando pela casa do anjo para fazer pedidos, até que a situação chegara a tal ponto que o estabelecimento sempre permanecia cheio, todos só tinham tempo para fazer confissões. Abandonavam suas tarefas, seu tempo, talvez a própria vida neste ato. Afinal, pra que trabalhar duro, pra que orar e orar, se o que precisam está apenas em um desejo?

Até que a notícia chegara aos ouvidos do Templo Sagrado Central, em que este se sentira completamente contrariado. Os fieis estavam sumindo do Templo, estavam se confessando para o anjo ao invés de estarem louvando aos deuses. Tentaram avisar ao povo que aquele anjo era um demônio que estava tentando prová-los, mas ninguém dera ouvido. Tomando-se de uma terrível cólera, o Templo reuniu vários moradores a fim de organizarem uma revolta contra o anjo, e acendendo tochas e empunhando foices e facões, partiram para o seu extermínio. Mas neste mesmo momento, a garotinha dos olhos verdes havia presenciado o início do protesto e, entendendo o motivo de tal agitação, correu desabaladamente para casa, chegando antes dos outros.

Aproximando-se do anjo, a menina contou ao seu ouvido desesperada sobre o perigo que estava correndo e lhe pediu para que partisse imediatamente. De repente, o anjo levantou-se da cama e abraçou a menina, dizendo: “Foste tu a única pessoa que me contaste um segredo sem pensar em teu próprio bem. Agora posso afirmar que, embora este mundo seja imerso na imensa podridão do pecado, ainda há um brilho de esperança que irá devastar todo o mal. Portanto, confio a ti a minha proteção e que seja de bom proveito para ti, teu próximo e aos deuses. Por hora me despeço, mas saiba que algum dia voltarei pra ti, não importa em que século, ou em que corpo estarás, apenas peço-te a tua paciência. Adeus.”

E assim dizendo, uma luz de cegar os olhos brilhou por toda a casa e esvoaçando as suas asas, o anjo levantou vôo em direção ao céu e sumiu de vez, mesmo sob os protestos dos manifestantes que se encontravam do lado de fora. A partir daquele dia, fora decretado pelo Templo que qualquer tipo de magia negra era expressamente proibida nos limites do vilarejo, e a história da donzela tornou-se uma lenda contada até hoje na localidade.

A história se encerrou na mente de Arme e, subitamente, ela notou que havia retornado às superfícies das águas. Virando-se encontrou a sombra ao seu lado.

- Quem era aquele anjo? – perguntou imediatamente. - E aquela menininha, ela é a... Nina?

- Ainda não percebestes? – retrucou secamente. - Aquele anjo era eu... pelo menos eu era assim antes de perceber o quanto os humanos são patéticos e estúpidos, sempre pensam no bem próprio. Fui enviada em uma missão à terra a fim de testar o povo escolhido, a fim de buscar pelo menos uma alma que reflita a bondade divina e torná-la a minha protegida, a mesma que irá guiar o mundo para longe das trevas. Mas, vejas só! Em vez de alegrarem-se, de agradecerem pela salvação, estavam maltratando, torturando, molestando a menina! Foi então que meu próprio espírito começou a mudar. Antes eu era luz, mas agora só transpareço ódio, o ódio que tenho destes humanos!

- Mas você não está confundindo a pessoa? Eu tenho certeza que aquela não era a Nina...

- Lembre-te: “não importa em que século, ou em que corpo estarás”. Na carne, ninguém é o mesmo nem ontem, nem hoje e nem sempre, mas sempre será o que é no espírito, penses nisto.

- Como tem certeza?

- Ainda estás em dúvidas? Vejas então a verdade!

Mais um brilho de cegar os olhos cobriu todo o lugar e Arme teve a sensação de ver mais uma história dentro de sua cabeça. Desta vez ela viu tudo sobre a Nina: o seu nascimento, os seus casos estranhos, a sua prisão e a sua fuga. Recebera estas informações tão rapidamente que sua cabeça parecia girar. Agora ela entendia porque haviam a prendido, porque haviam molestado tanto dela e que ela era inocente. E mais, soube quem era a pessoa que estava por trás disso tudo, quem estava tão determinada em proteger a garota o tempo todo.

- Então é você! – exclamou Arme, após voltar a si. – Você é quem esteve protegendo a Nina todo o instante!

- Sim, me alegro em saber que finalmente chegaste a esta conclusão. Mas não posso deixar a minha protegida exposta a esse inferno por mais um minuto. Hoje a tarde será o ultimato: será o dia em que ela será executada por vocês. Até lá deixarei que vocês humanos decidam se pretendem matá-la ou não. Se não a matarem, tudo bem, mas se tentarem a outra alternativa, será o fim.

- Mas por que está me mostrando isso tudo? A Nina será executada hoje?

- Estou mostrando-te tudo, pois creio eu que tu sejas a única que podes me escutar, e você e seus amigos são os únicos que podem intervir diante desta situação. Portanto, para que entendas o terrível mal que está por vir a sua raça, mostrar-te-ei... mostrar-te-ei o teu futuro – e dizendo isto, a sombra foi caminhando lentamente pela direção oposta.

- Ei, espere! Eu tenho mais perguntas pra te fazer! Ah...

Mas novamente um jorro luminoso emergiu por toda a imensidão vazia e Arme sentiu seus pés abandonarem as águas. No momento seguinte em que a claridade sumira, ela se viu em outro cenário: estava em Altegria, mas só havia uma diferença; o local estava todo destruído. As ruas estavam desertas e cobertas de escombros, os prédios, aparentemente recém demolidos, estavam crepitando em chamas. Por onde olhava não conseguia encontrar nenhuma alma viva sequer. Tremendo compulsivamente, Arme seguiu pelo que sobrara do lugar. Após minutos caminhado, não conseguiu encontrar nada além de ruínas. Até que, saltando com um susto, a garota localiza Elesis e Ronan inconscientes no chão.

- Elesis, Ronan!

Correndo ao encontro dos amigos, Arme se abaixa para examiná-los. Elesis tinham vários cortes fatais pelo corpo e Ronan tinham um grande hematoma na cabeça manchada de sangue. Consultando a pulsação dos dois percebeu que estavam mortos. Sem se conter, Arme começou a soluçar com brusquidão e grandes lágrimas escorreram pelo seu rosto. Virando-se instintivamente, encontrou o corpo de Ryan e Amy.

Era uma infelicidade grande demais para agüentar. Seus amigos mortos era algo quase impensável, não podia estar acontecendo. Agora tinham que buscar pelos outros. Lass, Jin e Lire deviam estar em algum lugar por ali. Tomando-se de um impulso, Arme deixou os corpos dos companheiros e saiu correndo pela sua busca, o som de seus passos ecoando pelo silêncio. Quase cega pelas lágrimas em seus olhos, tropeçou acidentalmente em uma pedra no meio do caminho, e, gemendo de dor, viu a um canto entre os escombros o corpo de Jin e Lire, e mais à frente o de Lass.

Arme permaneceu sentada, incrédula. Entretanto, pensou consigo mesma: “se isso for realmente uma visão de um futuro próximo, então eu deveria estar neste futuro também! O que será que teria acontecido comigo? Será que eu também teria... morrido?”

Arme levantou-se decidida de onde estava e começou a vasculhar os arredores a procura de seu “eu” do futuro, até que, não muito longe dali, encontrou uma mão de uma pessoa sobressaindo-se dos destroços. Removendo os destroços a sua volta, pulou de susto novamente: dessa vez encontrou ela mesma, o seu “eu” do futuro, mas era apenas o seu corpo morto, manchado de sangue.

- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOO!!!

- Arme, o que está acontecendo?

Ouviu-se um estrondo por perto e Arme notou que havia despertado do sonho e estava de volta ao seu quarto. Lembrando-se do que acabara de presenciar, ela se encolheu e desatou a chorar em um grande desespero. Ronan arrombou a porta do aposento e todos os outros entraram no quarto espantados.

- Arme, o que houve...? – perguntou Lire, extremamente preocupada.

- Nós... nós temos que parar a execução da Nina, e rápido! – pediu ela em voz alta, em meio aos soluços. – Antes que seja tarde demais!

---------------------------

Capítulo VI – Sentença de morte


O quarto ficou imerso no silêncio por alguns segundos, exceto pelos soluços contínuos de Arme e os cantos alegres dos pássaros do lado de fora da janela ensolarada. Incrédulos, todos pareciam tentar situar sua própria mente no que estava acontecendo naquele aposento, até que as dúvidas vieram à tona.

- Arme, o que está dizendo? – perguntou Ronan, intrigado. – Qual é o motivo do seu choro?

- A Nina vai ser executada...? Como você sabe disso? – indagou Elesis, com uma expressão séria no rosto.

- Eu vi... tudo! – explicou Arme, puxando as palavras em meio ao pranto. - Foi uma visão, horrível! A pessoa que estava protegendo a garota... foi ela que me mostrou!

E então ela contou tudo o que viu. Contou a experiência que teve naquele ambiente sombrio acima da face das águas, as histórias que aquele espectro fazia passar na sua cabeça, e, por fim, a dramática visão da morte do grupo e da destruição de Altegria, na qual esteve presente. Mais um minuto de absoluto silêncio, estavam chocados demais para comentar. Lire suspirou, e, aproximando-se da amiga abatida, abraçou-a e disse no tom mais calmo que pode:

- Você tem certeza de que isso tudo não passou só de...

- TENHO SIM! – esbravejou Arme, esquivando-se grosseiramente do abraço da garota, fazendo-a mostrar-se ligeiramente assustada e contrariada. – Eu sei como é uma visão, sei diferenciar de um sonho. Será que vocês não entenderam? Nina será morta injustamente e tem uma coisa solta por aí que pretende matar e devastar tudo, incluindo a gente!

- Arme, e se tudo isso for alguma armadilha? E se alguém está tentando nos atrair para algum lugar perigoso por meio do seu sonho? – acrescentou Jin, pensativo.

- Eu acho que o único jeito de sabermos isso é procurando, não é? – interpôs Ryan, pouco confiante.

- O Ryan tem razão – concordou Elesis. - Só saberemos se nós formos à busca de informações. A começar pela execução da Nina.

- Isso! Talvez o balconista da estalagem saiba de alguma coisa. – sugeriu Amy, apreensiva.

- Vamos então – finalizou Ronan, e assim todos os presentes saíram do quarto e rumaram para o térreo do imóvel. – Venha também Arme, acalme-se, por favor – pediu, parando quase à porta ao ver que a colega permanecera sentada sobre a cama, tremendo de pavor.

- Ah! Eu tenho que chamar o Lass, podem ir na frente! – lembrou-se Ryan à descida da escada, dando meia volta.

Chegaram à sala de recepção do alojamento às pressas e dirigiram-se ao balcão, onde encontraram o recepcionista: um senhor de baixa estatura e de cabelos ralos.

- Bom dia! – cumprimentou ele calorosamente. – Se quiserem comer, o café da manhã já está pronto na mesa do refeitório...

- Bom dia, mas nós precisamos perguntar uma coisa a você com urgência – interrompeu Ronan. – Por acaso você conhece uma garota chamada Nina, uma prisioneira que fugiu do cárcere há poucos dias?

- Ah, a feiticeira das trevas? – lembrou-se no mesmo instante, atônito. – Conheço, sim, se bem que eu ache difícil existir alguém neste lugar que não tenha pelo menos ouvido falar sobre ela...

- Você sabe se ela será executada? – continuou Elesis.

- A camareira me contou hoje cedo que irão executá-la, parece que hoje mesmo às dez da manhã.

- Essa não! – exasperou-se Arme, consultando um relógio de parede atrás de um confortável sofá. – Faltam apenas quinze pras dez!

- Se bem que não será nada mal que aconteça, toda a vila já esperava por isso. – comentou o balconista com uma sinceridade inconveniente para o grupo que ouvia. – Afinal, ela era uma maga negra, e eu ouvi dizer que chegou a atacar muitas pessoas.

- Aliás – interrompeu Ronan novamente, retornando ao assunto anterior -, você conhece a história da donzela?

- Bem, essa é uma das lendas contadas aqui pelas bandas de Altegria desde a sua fundação. Mas é só uma lenda, não aconteceu de verdade. Falando nisso, tem gente que acredita que foi a partir desse episódio que a magia negra foi inteiramente proibida. Por acaso vocês acham que a feiticeira tem algo haver com a lenda?

- Viu, eu não disse isso pra vocês? – cochichou Arme baixinho para os amigos, sem que o balconista ouvisse.

- Onde vão executá-la? – quis saber Ronan.

- Pelo que eu me lembre será na praça central, a maioria dessas mortes importantes são apresentadas em pleno local público. Isso é mais para deixar todos tranqüilizados, mostrar que caras perigosos estão sendo punidos. Bem que eu gostaria de assistir também, sabem...?

- Ok, muito obrigado, senhor – agradeceu Lire, cortando a conversa abruptamente e deixando o senhor mudo, e junto com os outros saíram do prédio para o pátio ensolarado da entrada do Templo Central.

- O que faremos agora? – perguntou Amy.

- Tá na cara, né? A profecia era verdade mesmo, tudo o que o tio nos disse se encaixa! A história da donzela, o ódio que o povo tem contra a Nina, e ele até sabe da sentença de morte! Agora teremos que impedir que o meu sonho vire realidade – disse Arme.

- Ou seja: vamos ter que parar a execução da Nina, tanto pelo fato dela ser inocente quanto pela profecia que a Arme recebeu – explicou Jin, ao ver a expressão confusa da Amy.

- Mas precisamos correr, temos pouco tempo! – alertou Arme, intrigada. – Vamos ver se o Basílio está lá fora, ele pode nos levar de carroça.

Correram para o lado de fora além dos grandes portões, e viraram-se de um lado para o outro para observarem a estrada de barro mas não conseguiram encontrar nenhum sinal do piloto.

- Droga! – exclamou Jin. – Não tem outro jeito, vamos a pé!

- Ai, não vai dar tempo! – desesperou-se Arme ao consultar as horas em um relógio de bolso que carregava.

Dispararam escadaria abaixo e apertaram o passo o máximo que puderam pelas ruas movimentadas. Por onde passavam, perceberam que população inteira parecia, quase como uma procissão, dirigir-se à apenas uma direção; para a mesma direção em que estavam indo: a praça central. Pareciam ligeiramente empolgados, e aqui e ali o grupo do Grand Chase conseguia entreouvir entre conversas alheias coisas como “Nina” ou “a feiticeira das trevas”. Ronan olhou de relance para Arme, e percebeu que esta se mostrava extremamente agoniada, fixava o chão com o rosto contraído de preocupação enquanto corria. Se a profecia se cumprir, será mesmo que todos eles morreriam? Como isso aconteceria? Talvez a única que sintia de verdade o problema por qual estavam passando era mesmo a Arme, pensou Ronan.

***

A praça estava lotada. Pessoas pareciam surgir de todos os cantos possíveis, todas para apreciar o evento em que aguardavam ansiosamente nos últimos dias. Tentavam se achegar o mais próximo que podiam do patíbulo, que fora montado recentemente naquele mesmo dia. Acima deste estavam apenas alguns soldados de prontidão a um canto, uma enorme guilhotina posicionada no centro na qual de seu topo pendia uma lâmina amedrontadoramente afiada, e, de frente para o público, um senhor alto de cabelos e barbas alvas, e que usava uma veste branca aveludada.

Em poucos minutos, ouviram-se trotes se aproximando e viu-se uma pequena carruagem negra puxada por um casal de cavalos abrir caminho entre a multidão e estacionar ao lado do altar de madeira da sentença. De dentro saíram mais guardas, e, apurando melhor a visão, podia-se notar que havia uma menina entre eles. Nina estava sendo escoltada para sua própria morte, porém nem sequer protestava e esperneava contra o seu destino: e nem se quisesse poderia fazê-lo, afinal ainda encontrava-se adormecida, carregada pelos braços por dois soldados, mesmo com o seu corpo balançando molemente e seus pulsos presos por grossas correntes metálicas.

Vendo que subiam as escadas para cima do patíbulo, uma pessoa correu desesperada em direção à garota.

- Nina! NINA! – berrava descontrolada. Era a mãe dela.

- Não, querida! – reprimiu o marido, segurando-a bem firme para que ela não avançasse para cima de sua filha. – Não podemos fazer mais nada agora... sinto... sinto muito...

- Não, não podem fazer isso, ela é só uma garota, ela é minha filha! – e sem saber o que fazer, desatinou em um choro de profundo desespero.

Os guardas levaram-na para o lado da guilhotina e pararam ali mesmo, eretos, sustentando Nina com as próprias mãos. O senhor de vestido branco avançou para perto deles, e, sob um silêncio que surgira ao fazer este movimento, anunciou em voz alta:

- Bom dia a todos, povo altegriano! – e dito isto o público retribuiu aos berros com vivas estridentes por alguns instantes, até que se calaram mais uma vez. – Hoje, finalmente, conceberemos a uma perigosíssima criminosa uma sentença de morte merecida. Esta mesma pessoa tem sido culpada por cometer os crimes mais bárbaros dentro de nossas terras, e, para ser honesto, magia negra é um crime grave demais para qualquer um praticar. E como se isto não bastasse, esta menina ainda ousou usá-la contra pessoas inocentes em uma plena rua movimentada, e mais: usou-a de novo para traçar sua fuga de uma prisão de segurança máxima. Infelizmente, ela escapou com êxito, mas como sabemos, nada escapa da justiça dos deuses, e graças a eles, conseguimos rendê-la e agora iremos fazer o julgamento que irá fazer jus à grandiosidade deles.

“Por isso eu, o sumo Sacerdote de Altegria, Aberford, concedo a esta garota chamada Nina a sentença de morte. E que ela parta deste mundo para que não transmita mal algum a nenhum servo dos deuses. Podem executá-la.”

O seu discurso foi recebido com grandes vivas prolongados, e neste mesmo instante os soldados começaram a desacorrentar Nina e levaram-na para baixo da guilhotina, colocando seus braços e pescoço sobre uma alça de madeira e fechando uma outra por cima para que a prendessem ali. Nina, ainda inconsciente, não reagira, não podia perceber que estava prestes a ter a própria cabeça arrancada em questão de minutos. Satisfeito, o sacerdote Aberford apanhou a corda que mantinha erguida a grande lâmina e começou a desamarrá-la.

- PAREM COM ISSO, AGORA!

Alguém no meio da multidão berrara. Berrara tão alto que conseguira sobressair-se em meio aos gritos enlouquecidos, e agora corria em direção ao patíbulo e subia as escadas.

- Quê? Q-q-quem é... – balbuciou o sacerdote. - Eu acho que conheço você!

- Pare com esta sentença imediatamente, não há nenhum sentido em fazê-la agora, não faz parte do nosso trato neste instante – disse a comandante Lothos.

Lothos irrompera de súbito e parou imponente a poucos metros de distância de Aberford. Silêncio total. Todos permaneceram pasmos, escandalizados com a aparição inesperada. Sustentando um olhar de pura seriedade, ela tornou a dizer:

- Parem JÁ!

- Nem pensar! – retrucou Aberford, retribuindo com um olhar igualmente sério, mas no fundo malicioso. – E deixar esta criminosa passar sem ter o que merece?

- Eu entendo o que está pensando, mas ouça-me...

- Não! Você não sabe o quanto esse povo tem esperado para ver essa menina estar onde está agora. Nós não podemos esperar mais nenhum instante – protestou ele.

- Mas ela seria julgada, você me jurou que quando a trouxessem de volta levaríamos em conta julgá-la se ela é realmente culpada ou não antes de qualquer coisa. Foi isso que eu disse aos meus guerreiros antes que partissem nessa missão e não queremos matar ninguém inocente!

- Mas ela não é, ponto final! – respondeu com tom de intolerância.

- Então, no final das contas você deve ter um grande ressentimento contra a menina. Um tão grande a ponto de cometer qualquer loucura para...

- Basta! – exigiu Aberford. – Vamos acabar com isto logo! - e sem avisar retornou a tentativa de desatar a corda da lâmina.

- Eu disse para parar! – urrou ela, e puxando um punhal de seu bolso apontou-o para o sacerdote e disse: - usarei força bruta se for preciso!

Ao verem a cena, os guardas avançaram para cima de Lothos para tentar desarmá-la. Esta por sua vez fez de tudo para desvencilhar-se deles e se debateu o máximo que pode, mas sem resultado. Teve de ser contida por quatro soldados para que ficasse imóvel, e no meio da confusão deixou sem querer o punhal cair no chão. Abeford agachou-se, e com um sorriso triunfante apanhou a arma desinibida e com ela cortou a corda sem nenhuma cerimônia.

- NÃO!

A lâmina despencou do topo da guilhotina, dirigindo-se implacável ao chão para partir ao meio o pescoço da Nina. Mas acontecera em questões de segundos: sob os olhares de assombro das centenas de expectadores uma fumaça negra se desprendera do corpo da garota e logo depois se adensara, materializando acima dela uma criatura. Era uma criatura horrenda: tinha cerca de oito metros de altura; seu tronco era parecido com o de um humano nu, porém grande, magro, acinzentado, e ao invés de pés, possuía algo como garras de harpias; nas suas costas havia um par de asas negras de morcego; seus braços eram largos e possuía punhos grandes, além de uma grande pelagem negra ao redor do pescoço abaixo de sua cabeça, na qual carregava um rosto nefasto idêntica à de um morcego. A criatura, na mesma rapidez que surgira, aparou a lâmina em meio à queda com sua mão gigante sem sequer se ferir. Os seus olhos vermelhos vivos e malignos brilharam, mirando cada pessoa presente e por fim repousando-os sobre o sacerdote. Sem muito esforço, agarrou as duas hastes de madeira da guilhotina e partiu-as ao meio, rugindo enfurecido, e então jogou a lâmina contra Aberford com ferocidade, que, propositalmente, errara-o por pouco. Aberford tropeçou e caiu no chão na tentativa de escapar do ataque repentino. Olhando fixamente para ele, a besta disse:

- Enfim, ousaste contrariar os deuses até o último instante, abusaste de sua bondade a ponto de promover tal atentado a esta imaculada irmã, a escolhida dos céus. Pois, se assim fizeram, e creio eu que o arrependimento nunca tomará os seus corações, passar-vos-ei o castigo celestial, um castigo que eliminará toda a sua raça de intolerantes pecadores da face da terra. Apenas desse modo a glória divina poderá voltar a reinar neste mundo impuro.

E dizendo isto, apanhou Nina com uma das suas garras traseiras de harpia com que se sustentava, esvoaçou as asas de morcego e voou veloz em direção ao centro da cidade.

- Não... não pode ser! – sibilou Lothos, ainda detida nos braços dos guardas, em que estes já não prestavam atenção nela, mas assistiam espantados a partida do monstro.

- QUÊ ABERRAÇÃO ERA AQUELA? – berrava a multidão.

- A GAROTA ESTAVA ENDEMONIADA!

- TEMOS QUE CAÇAR AQUELE MONSTRO E TRAZER A GAROTA DE VOLTA!

- Com licença, licença por favor... Lothos!

- Essa não, chegamos tarde! – lamentou-se Lire.

A equipe do Grand Chase acabara de chegar ao local e tentava passar pela infinidade de pessoas agitadas, até que Arme localiza Lothos acima do estrado de madeira, ainda presa pelos soldados.

- Lothos, o que faz aqui? – perguntou Jin, perplexo.

- Pessoal... desculpem-me, eu falhei... – admitiu ela.

- Mas o que era aquilo que voou para a cidade? – indagou Arme. – Onde está a Nina? Não me diga que...

Lothos abaixou a cabeça, sem palavras. O mais resumidamente que pode, contou ao grupo tudo o que acontecera naquele local. Ao terminar, Arme começou a chorar em silêncio.

- Lothos, era tudo armado! – contou Ronan. – A Nina, ela estava sendo protegida por um anjo, a Arme mesmo viu! Esse anjo nos mostrou que Nina era inocente e o que iria fazer se Nina fosse executada, e bem... a Arme nos disse que nos viu... mortos! – e sussurrou a última palavra no ouvido dela.

- Santo Deus! – exclamou Lothos. – Nós precisamos ir...

- Você não irá a lugar algum, senhorita Lothos! – interrompeu Aberford, aprumando-se, e dirigindo-se a eles. - Eu, o sumo Sacerdote de Altegria, declaro que você está presa!

- O quê? Não tem direito de fazer isso comigo! Você que é o culpado! Trapaceiro! – protestou ela, tentando desvencilhar-se dos soldados, que haviam apertado o seu braço com mais firmeza.

- Atacando o enviado dos deuses, você devia se envergonhar! – disse ele com um sorriso inexpressivo. – Guardas, levem-na.

- Lothos, não iremos deixar que prendam você! – exclamou Elesis.

- Não, escutem! - pediu Lothos, tentando impedir os guardas de levarem-na para longe dos amigos. – Vocês têm que impedir que uma catástrofe ocorra, e não se importem comigo! – acrescentou, percebendo que Ronan abrira a boca para contrariá-la. – Por favor, tragam a Nina de volta... me perdoem, eu fui frágil demais.

“Eu vim na tentativa de dar a ela pelo menos uma chance de julgarem-na, de buscar a verdade por trás dela como eu havia prometido a vocês, que se preocuparam demais, visto que os responsáveis judiciais daqui não me deram muitas respostas. Mas eles me traíram. Eu os fiz prometer que não faria nada até tomarmos a decisão final juntos. Por isso, fiquei incomodada e vim correndo pra cá, sem saber o que estava esperando.

“Eu peço a vocês mais uma vez, tragam a Nina de volta!”

Lothos os encarou com o olhar mais sério e decidido que já a viram fazer, sem sequer derramar uma lágrima. Então, pondo as mãos sobre os seus ombros, Ronan disse tranqüilamente:

- Não se preocupe, nós iremos imediatamente. Afinal, você é quem nos dá as ordens, e, aliás, alguma vez nós já falhamos?

Lothos, então, assentiu com a cabeça, abrindo um bondoso sorriso.

- Pessoal, vamos! – ordenou ele.

- Lothos... boa sorte! – choramingou Amy.

- Avante, Grand Chase! – bradou Lothos.

Sem se revoltar, Lothos seguiu com os guardas escadaria abaixo, entrando na mesma carruagem de qual saíram e partiram pela rua. Aberford encarou o grupo de amigos com malícia e atenção, mas estes não se deram o prazer de retribuí-lo e apressaram-se pela multidão que já se retirava e seguiram para o centro da vila.

---------------------------

Capítulo VII – O anjo da discórdia


- LAAAAAAAAAAAAAASS!

Nesse meio tempo Ryan batia à porta do quarto de Lass. Estivera ali há mais de uma hora, de início batendo desesperado, e agora, debruçado na parede do corredor, lamentando-se entediado e chamando o amigo de minuto em minuto.

- Lass, é sério, tenho uma coisa urgente pra te contar! – tornou Ryan. – Vai, eu sei que você tá ouvindo, portanto não se finja de surdo e abre a droga da porta! AGORA!

Nenhuma resposta. Ryan soltou um grande suspiro.

- Então é assim que você quer, né? – bradou ele, olhando fixamente para a porta. - Tá querendo bancar o durão? Você vai ter o que merece, eu vou soltar um berro tão potente que nem a Amy sonhou em dar. Essa é a sua última chance!

Apenas silêncio. Ryan tomou fôlego e disse:

- Eu vou contar até três. Um... dois e... AAAAAAAAAAAAAAAAHH!

Ryan urrou como nunca fez em sua vida. Mas não foi um berro de insatisfação, e sim do susto que levara. Antes de sequer contar o três, a porta do quarto abrira-se bruscamente e de dentro do cômodo uma kunai voou veloz, raspando por cima da cabeça do elfo e arrancando um chumaço de seus cabelos alaranjados, indo parar na parede oposta do corredor. Ryan estatelou-se no chão e desmaiou de espanto.

- Céus, como pode haver alguém tão irritante no mundo...?

Lass irrompera de seu quarto escuro e, só quando olhou para o chão, percebeu a presença de Ryan. Aproximando-se dele, Lass agachou-se, agarrou-o pelo colarinho da camisa e começou a chacoalhá-lo, vociferando:

- Acode, seu inseto! Você disse que tinha algo importante para me contar? Então me conte logo, ao invés de ficar esparramado aí, como um completo lixo!

Ryan não deu nenhum sinal em retorno, apenas deixou a sua cabeça balançar junto ao corpo, molemente.

- Acorde, maldito, acorde! – Lass começou a dar fortes bofetadas na cara do amigo.

Ryan só despertou depois de ter ficado com o rosto completamente inchado pelas dezenas de tapas. Gemendo, ele perguntou:

- Ai, será que eu ainda não morri? – disse ele numa voz rouca e sonolenta. – Ou será que aqui é o céu?

- Aqui será seu túmulo se você não me contar o que aconteceu, depressa!

- Aaaaaiih, Lass! – exclamou Ryan atrapalhado, recobrando a consciência. – Desculpa, desculpa... não faço mais isso!

- Isso não importa. Diga-me de uma vez o que você tem pra dizer!

- Ah, tá bom, tá bom, eu digo. É que... bem, eu... é... – balbuciou ele, com uma expressão vazia no rosto, levando a mão ao queixo. – Eu esqueci...

Lass começou a se avermelhar-se. Seu rosto inchou de raiva, seus olhos faiscavam perigosamente e várias veias latejavam em sua têmpora. Agarrando o pescoço do elfo violentamente, jogou-o contra a parede, arrancou a kunai estacada na parede e apontou sua ponta afiadíssima próximo ao pescoço dele.

- VOCÊ VAI ME CONTAR OU EU VOU TER QUE TE MATAR? – ameaçou.

- PERAÍ, EU NÃO POSSO MORRER AGORA! – choramingou Ryan. – Não antes de me confessar para a Amy! Ah, acho que eu vou pedir a mão da Elesis em casamento um dia. Sem falar na Lire, aquela loirassa, ai céus...

– ONDE-ESTÃO-OS-OUTROS? – berrou Lass, a sua boca espumando.

- NÃÃÃO! TÁ BEM, EU LEMBREI! – afobou-se Ryan, pálido de medo. – É A NINA! PARECE QUE ELA VAI SER EXECUTADA HOJE!

- O quê?

E então Ryan contou tudo o que Arme narrara a ele sobre o sonho que tivera naquela mesma manhã. Lass, espantado, levantou-se de um salto, voltou para o seu quarto e meio minuto depois estava de volta, avançando escada abaixo.

- Lass, onde você tá indo?

Lentamente, Ryan pôs-se de pé e seguiu o companheiro. Quando chegou ao térreo, viu-o em frente ao balcão, aparentemente conversando com o recepcionista.

- Lass, você é tão mal-educado... – disse Ryan, ao se aproximar.

- COMO PUDERAM FAZER ISSO? – esbravejou Lass, golpeando o balcão tão forte e repentinamente que fez afundar o seu tampo, sobressaltando todos que estavam por perto, incluindo o balconista que caiu no chão com o susto. Sem ligar para o escândalo que fizera, Lass disparou para fora da hospedaria rumo aos portões.

- Aonde você vai? Espera! – perguntou Ryan, recuperado do choque. – Ei, tio, o quê foi que deu nele?

- E-e-eu também gostaria de saber – declarou, pondo-se de pé, trêmulo. – Ele é o segundo a me perguntar sobre a tal Nina, nunca imaginei que existisse alguém que levasse tão a sério o caso dela.

- Ah, a propósito, ela vai mesmo ser sentenciada hoje? – indagou o elfo.

- Sim, e a esta hora já deve estar morta... Por acaso vocês tem alguma ligação com esse caso? Ei, o que houve?

Ryan, sem dar maiores satisfações, correu para fora da estalagem e atirou-se para além dos portões.

- Lass, por que você é tão compulsivo? – perguntou-se.

Ryan atravessou a rua de barro, desceu as escadas rapidamente e aprumou-se pelas ruas pavimentadas da cidade por onde dezenas de pessoas fugiam desesperadas para a direção oposta.

- Para onde todas essas as pessoas estão indo?

- Ei, onde você pensa que vai, garoto?

- Mas, o quê...

Um homem alto, de cabelos escuros e curtos e vestimenta simples de camponês aproximou-se de Ryan e agarrou-o pelo ombro.

- Você não pode ir naquela direção, é perigoso! – continuou uma senhora que acompanhava o moço. – Tem uma coisa à solta por aí que está...

- Desculpa, tia – disse Ryan, desvencilhando do aperto no ombro, enquanto várias pessoas corriam ao lado deles, apressadas a se retirar -, mas eu tenho que achar meus amigos, não posso ir embora sem eles – e assim partiu, deixando os dois para trás.

Depois de correr vários minutos pelas ruas, Ryan percebeu que o número de pessoas que passavam alarmadas por ele estavam diminuindo, até que, quando cruzou mais uma avenida, não haviam mais ninguém, somente uma pessoa permanecera ali e estava parada, olhando para o céu.

- Lass! – exclamou. – Que sorte eu ter te encontrado! Conseguiu encontrar algum dos nossos?

- Psiu! Faça silêncio – ordenou Lass.

- Mas...

Lass fechou os olhos e apurou os ouvidos para localizar algum ruído estranho.

- Achei! – anunciou ele. – Por ali.

- O quê você está procurando? – perguntou, acompanhando os passos apertados do amigo na direção na qual ele apontara. – Por que será que você adora me ignorar...?

- Deve ser aquilo lá no céu! – concluiu Lass, parando à esquina deserta e apontando para o alto.

- O que é aquilo?

Bem ao longe era possível ver uma coisa cinzenta sobrevoar as ruas. Ryan pensou ter visto a coisa lançar algo parecido como uma bola negra na direção do solo, até que sentiu a terra tremer de leve e viu um quarteirão distante explodir sob uma grande coluna de fogo.

- Aquela coisa está destruindo a vila inteira! – espantou-se Lass.

- T-t-tem alguma coisa vindo na nossa direção! – informou Ryan.

- Ryan, abaixe-se!

Antes que o elfo pudesse entender o que estava acontecendo, uma bola de fogo negra viera disparada na direção deles e atingira os prédios do quarteirão bem ao seu lado. Um mar de entulho voou para cima dos garotos. “Não conseguiremos fugir”, pensou Ryan consigo mesmo, porém, uma idéia brilhante passou tão rápida quanto um relâmpago por sua mente, e, como um último suspiro, Ryan agarrou Lass e uma luz branca os envolveu, abafada apenas pela cortina de escombros que os soterrou.

A esquina toda fora coberta de destroços. Segundos de silêncio, exceto por outras explosões que ocorriam por todos os lados. Uma parte dos montes de entulhos começou a se mexer, e dele, subitamente, saltaram duas pessoas: Ryan, que assumira a forma de nepherin, e Lass, que fora protegido pelas grandes asas do amigo.

- Até que você não foi tão inútil quanto eu pensava – afirmou Lass, após terem pousado no chão, espalmando sua roupa para tirar a camada de pó que o cobria.

- E o que você esperava que eu fizesse? – bufou Ryan, cruzando os braços.

- Aquela coisa... – retomou Lass ao assunto – ela vai pagar caro por isso...

- EXPLOSÃO DE ENERGIA!

Várias flechas de luz foram disparadas de algum lugar distante e atingiram em cheio a criatura nos céus da vila, causando uma explosão luminosa.

- Foi impressão minha ou aquele foi o “explosão de energia” da Lire? – indagou Ryan.

- São eles! – exclamou Lass. – Devem estar em algum lugar aqui por perto. Ryan, não volte ao normal agora, use a sua forma de nepherin para nos levar até eles!

- O-ok!

Ryan, com as duas mãos, segurou o amigo pelo tronco e, esvoaçando as suas grandes asas, levantou vôo e juntos partiram à procura dos outros companheiros.

- Na mosca! – exclamou Elesis.

Entrementes, o resto do grupo do Grand Chase viera acelerado atrás da criatura, e ao localizá-la, Lire mirou-a com a sua gankkung e disparou contra ela sem hesitar. A coisa agora caía inerte em direção ao chão ao lado da Nina, que se desprendera de suas garras.

- A Nina está caindo! – espantou-se Amy.

- Deixem comigo! – pediu Jin.

Jin correu para salvá-la e aparou-a em seus braços em meio à queda, enquanto o monstro caía sobre um prédio no fim da rua sem saída, reduzindo-o a destroços.

- Urgh, vós não tendes... o direito de fazer... isto comigo! – esbravejou a coisa.

- E você não tem o direito de destruir a vila! – retrucou Ronan. – O que pretende fazer com isso?

- Eu apenas faço aquilo que convém aos deuses supremos – respondeu, pondo-se em pé com muito esforço sobre os restos do que antes era um edifício. – E o que eles querem é que eu acabe com todo esse pecado, por isto fui enviada a esse lugar imundo, e vim para buscar a minha protegida, a pessoa que mais sofrera por vós. Agora, devolva-a a mim!

- Não! – negou Lire. – Nós entendemos o que você está dizendo, mas isso não pode acabar assim!

- Isso mesmo! Nós sabemos que a Nina é inocente e também de todo o sofrimento que lhe causaram, por isso estamos aqui e viemos para ajudar! – disse Elesis.

- Devolvam-na, agora! – irritou-se a besta, caminhando lentamente em direção ao grupo, seus punhos gigantes fechados e suas presas de morcego cerradas.

- Não queremos lutar com você, mas se continuar assim não teremos outra escolha... – disse Ronan.

- DEVOLVAM-NA!

A besta avançou com brutalidade para atacá-los, porém não quis saber de outra pessoa senão Jin, o mesmo que carregava Nina naquele momento. Num turbilhão de asas sinistras, a coisa voou veloz para perto dele e tentou golpeá-lo, mas errou por pouco, atingindo e abrindo um grande buraco na rua asfaltada. Jin recuou para a calçada, ainda segurando Nina nos braços, acompanhado pela criatura que o incidia com ataques incessantes, saltou para cima do muro à frente de uma lojinha, que foi igualmente esmurrado e derrubado, e depois para o telhado do imóvel, onde ajeitou a garota sobre seus ombros, sacou seu bastão e disparou em direção à besta para contra-atacar. No entanto, a criatura fora mais ágil, e, antes que Jin conseguisse esmurrá-la, agarrou seu bastão enquanto ele o brandia no ar e assim lançou-o com violência direto para o chão, onde Jin caiu de costas, dolorosamente.

- Ai, essa doeu! – resmungou, massageando a coluna enquanto se levantava junto com a Nina.

- Ainda não terminei contigo!

A coisa disparou para os dois novamente, inexorável. No entanto, antes que pudesse alcançá-los, várias lamparinas azul-claro sugiram inexplicavelmente no meio de seu caminho.

- Raio Místico!

As lamparinas explodiram, não atingindo por pouco a criatura que recuara instintivamente em pleno vôo.

- Flecha de energia!

Flechas radiantes foram disparadas por trás da cortina de fumaça deixada pela explosão, mas foram repelidas por uma espécie de campo protetor negro, criado das mãos ossudas da besta quando esta as ergueu a sua frente.

- Caos Final!

Elesis surgira por trás do monstro girando feito um vendaval e, fazendo um corte cruzado com os seus sabres, lançou uma chama ardente em sua direção. A coisa não reagiu, mas, ao ser atingida, transfigurou-se em uma fumaça escura que voou por vontade própria para trás da garota em um piscar de olhos, e dela a aberração se materializou, erguendo Elesis do chão pelo pescoço, girando o cotovelo para dar o golpe final.

- Congelar!

Arme agira em tempo e, antes que a criatura pudesse acertar a Elesis, agitou o seu cajado e uma camada grossa de gelo cobriu rapidamente todo o corpo acinzentado do monstro, imobilizando-o e obrigando-o fazê-lo soltar a garota de sua mão, e esta caiu no chão, tossindo sufocada.

- Boa, Arme! – vibrou Jin.

- Cof... valeu, Arme! – agradeceu Elesis.

- Agora!

Ryan (já na sua forma normal) e Lass saltaram do telhado de dois prédios, que se encontravam em lados opostos da rua, onde estiveram se escondendo sorrateiramente todo esse tempo, procurando apenas uma brecha para entrar na batalha. Empunhando cada um a sua própria arma, estavam preparados para dar o golpe de misericórdia.

- Lâmina Exe...

- Espíritos da...

Nesse momento, uma aura sinistra emanou da criatura e atingiu a todos como uma onda. Sentiram um brusco calafrio e todo o cenário pareceu se escurecer, até que, ao se derem por si, a criatura desaparecera de dentro do cristal de gelo, e Lass e Ryan colidiram-se tolamente no ar.

- Seu retardado! – brigou Lass. – Saia da minha frente!

- O quê! Você que passou na frente primeiro, seu apressadinho! – rebateu Ryan.

- Lass, Ryan! – saudou Amy.

- Ei, ei, por que a demora? – perguntou Elesis. - Perderam-se no caminho?

- Os dois aí, cuidado! – alertou Lire.

Inesperadamente, a criatura ressurgira próximo aos dois amigos que, atentos, esquivaram-se do ataque furtivo. Ao se juntarem com o grupo, Lass perguntou:

- E então, aquele sonho da Arme...

- Sim, tudo verdade – confirmou Ronan. – A donzela, a inocência da Nina... e talvez a nossa “morte”. Viemos correndo quando soubemos que estavam prontos para matá-la, e quando chegamos só encontramos a Lothos na cerimônia de execução e essa coisa voando pela vila, carregando a garota.

- Lothos está aqui? – apressou-se Ryan a questionar. – E de onde veio essa coisa?

- Eu explicarei depois, mas agora temos que evacuar a Nina – informou Ronan. – Não conseguiremos lutar com ela por perto, é perigoso, sabem, e essa coisa está doida para pegá-la de volta.

Olharam de relance para a besta, que parecia escutar atentamente cada palavra que diziam, cortando-lhes com seu olhar infernal.

- Já decidistes se render-se-ão? – indagou, feroz.

- Você tem razão – apoiou Jin, ignorando a besta. – Acho que apenas uma parte do grupo deveria recuar com a Nina, enquanto o resto permaneceria para lutar. Talvez umas três pessoas bastem.

- Ok, então – continuou Ronan. - Amy, Jin e Arme, algum problema se vocês forem os encarregados?

- Não – disseram os três em uníssono.

- Se pensastes que eu deixar-vos-ei levá-la embora, pensastes mal – grunhiu a coisa. – Devolvam-na agora ou todos sofrerão as conseqüências!

- Vão! Não prestem atenção nessa coisa e dêem o fora depressa, nós cuidaremos do resto! – exigiu Lass.

- Certo, tomem cuidado! – disse Arme. – Estaremos em algum lugar longe daqui quando terminarem.

- Boa sorte, amigos! – desejou Amy.

- Vam’bora! – exclamou Jin.

E então Jin, com a Nina sonolenta apoiada as suas costas, acompanhado por Amy e Arme (esta voando sobre o seu cajado mágico), deu meia volta e correu pelo lado oposto da rua sem saída para traçar a sua rota de fuga.

- Seus humanos infames! Interrompam este ato banal, imediatamente! – enfureceu-se.

- Só por cima de nossos cadáveres – contrapôs Lass.


---------------------------


CONTINUA...

No próximo capítulo: A batalha continua! Qual dos dois lados vencerá: o Grand Chase, que entrou nesta luta terrível para salvar Nina e Altegria da destruição, ou a besta, que dispõe de todos os meios para conseguir o que quer?


enquetes:

Seguidores